quinta-feira, 1 de novembro de 2018
sul
perdi a cuia uruguaia
mas mantive a bombilla
perder faz parte, disse
sei perder
nem tomo mate
de costas pro sul nem sinto
atlânticos ventos nem vejo
o sol no foz do prata
sem norte me viro de costas
sábado, 24 de fevereiro de 2018
24-02
o motorista do ônibus dirige o ônibus. não há ar condicionado. o motorista coberto em suor ri dos passageiros cobertos em suor. atire-me aos leões, mas venha comigo (banhado em suor); o verão não é pra principiantes. o inverno não é pros fracos. às quatro da manhã as máquinas asfaltavam a rua da minha casa. as obras são pra quem dorme de protetor auricular; o prefeito então apareceu pela manhã num evento. os discursos políticos são pra quem usa protetores auriculares (eu não estava lá). os fascistas antigamente usavam uniformes; hoje em dia eles vão à barbearia e tomam café da maquininha, compram roupa no shopping e riem de todos nós. nem todos são conservadores - tenho a impressão que os fascistas na verdade não gostam do que tem nome. o que tem nome se toca e vê, e dói.
vamos lá: num ônibus. um homem roça o pau em mim e fica duro. eu roço o braço no pau dele. ninguém fala nada, olho pra cima, pisco o olho. pego no pau dele. ele desce no ponto eu desço atrás. aí na próxima esquina ele me mete um soco e vai embora. e se goza todo. eu banhado em sangue. ele todo gozado. alguém lê isso, e fica duro.
nada disso aconteceu com exceção da última frase. só suponho.
nos anos 2000 ninguém mais lia poesia; agora ninguém mais lê prosa também mas há muitos livros de fantasia nas estantes. no ônibus (para o inferno) a mulher da frente assistia um vídeo evangélico que falava assim (etc) o homem pediu que deus falasse com ele e deus mandou um pássaro e o homem não ouviu, um raio não ouviu, um peido (etc) aí no fim o homem a) se converteu b) se fudeu. ela respondeu à amiga que mandou o vídeo: que lindoooooo. eu pedi a deus ARRUME O AR CONDICIONADO mas deus não ouviu e cheguei no ponto. em ponto morto.
as máquinas de asfalto continuavam soltas.
vi um vídeo (!) de um bot que tinha escrito um livro da série Harry Potter. a sintaxe era dez; semântica, nenhuma. ri muito. uns moleques ingleses liam o texto. vi outros vídeos e descobri que eles faziam piadas racistas (eram todos homens brancos). às vezes falavam mal dos commies. fechei o computador com desgosto. os fascistas não levam o que é bobo à sério - o bobo é seriíssimo. o bobo renomeia as coisas, traz à tona. então é aí que, vendo, a gente dói.
bom sábado.
terça-feira, 25 de julho de 2017
Parece bobo, mas é bem sério
para a falta de respostas e exausta
a mesa posta sem cadeiras
só um terror exato fica prenso
servirão forte café no velório?
não querendo morrer a história não para
daí pensar tão certo o sol aumentando
engolindo todo pensamento da idade média
tudo há de passar memento mori
só queria beber uma cerveja
calmamente fim de terça
infelizmente pura sorte
o mundo cagou em sua cabeça
terça-feira, 30 de maio de 2017
Celestes
estas misturas areias
diretas ações de espaço
tempo de outras areias
irmãs pós pedras partículas
povoam o espaço e são
minúsculas
mais comuns que o evento da palavra penso
ou conversas de companheiros
abismados de serem mais raros
que celestes minúsculas
diretas ações
areias
misturas
domingo, 28 de maio de 2017
flotar
justo agora o
mesmo tempo
uma tempestade jupiteriana
jade
rocas flotando por el vacio
sólidas sem que alguém veja
haja ou pense diante
das mesmas rochas
tomo meu café amargo penso
na coceira me incomoda
el polvo flota en el aire
não sei mais o que importa penso
que nem há solidão onde não há ninguém
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Revolução
não foram-se as cercas;
estão aí. ainda
para serem derrubadas
pelas mãos porosas, ásperas
que mandadas
as ergueram
sexta-feira, 21 de abril de 2017
Um poema de amor, sem máscaras
molhamos o papel
envolvemos a garrafa.
freezer até a cerveja quente
estar fria como a mão rela na nuca acidental:
seca, quente, minha.
piquenique na chuva; ai que
saudade, heineken quente
a gente atento à garagem
metendo. risos, vozes na vizinha.
um eu-lírico frêmito - lirismos
só de surpresa. tocavam
campainhas próstatas sinos.
recito o dialeto particular em leitura mínima.
depois de tanto tempo ainda me assombra
a violência dessa ternura não explícita.
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