sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Poema do Desejo
desejo
sentir carmim
um meio-termo
o que prevejo
realizar
- com as mãos velejo
um novo mar
desejo
tocar o que há demais de mim
em você
mergulhar por fim
ao que há demais
de você
em mim
.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Por quê você não pode concordar com a homossexualidade
Eu não concordo com a homossexualidade. Aliás, ninguém deveria.
***
Sempre que acabo de ler um artigo, leio os comentários abaixo caso existam. À parte da batalha cega de opiniões, alguns chamam a atenção pela sinceridade natural. Reproduzo um, lido logo abaixo de um artigo sobre machismo: " ... E se ela (uma pessoa) procura, todos os dias, fazer bem a todos e se preocupar com o próximo, porém SEM DISCRIMINAR, não concorda com o (sic) homossexualismo?"
Oras, mas não é mesmo possível concordar com a homossexualidade, minha cara - assim como é impossível também discordar. Como alguém poderia concordar ou não com uma condição inerente à uma pessoa? Fico imaginando se a mocinha tal do comentário debaterá consigo mesma se ela concorda ou discorda da raça negra ou das pessoas com deficiências (sem discriminar, logicamente).
Aliás: tratar condições inerentes à uma pessoa como escolha pessoal já é, em grande parte, discriminação. É permitir que se possa "discordar" - convertendo preconceito em uma pretensa opinião, fundamentada em religião, moralismo ou pura e simples ignorância. Parece então mais fácil pintar de opinião a intolerância à reciclar velhos pensamentos; dói mudar, né?
Também incomoda um pouquinho ver aqueles que, ao contrário da mocinha do comentário, "concordam" com a homossexualidade: sentem-se orgulhosos por terem amigos homossexuais no círculo social, exaltam a liberdade de escolha da sexualidade, se alegram com o aparente exotismo do mundo gay, dos chavões, estereótipos, et cetera. É bom que haja um apoio à aceitação e à tolerância: mas jamais a criação de uma aura de diferença entre homos e héteros. Em comparação, a homossexualidade pode ser aparentemente menos comum - porém é condição sexual de mesmo valor, não sendo nada bom colocá-la num lugar diferente, como uma alternativa à condição sexual "normal", que seria a hétero.
Mas vem lá mocinha e, hipoteticamente, diz: bom, digamos que você esteja certo. Mas eu posso não aceitar a homossexualidade, e aí?
Você pode não aceitar a existência da segunda feira, do seu time adversário, da cor azul e do refrigerante que você não gosta. Sendo essas coisas obviamente tão diferentes da homossexualidade, tem com ela uma coisa em comum com milhares de outras: existem simplesmente, aceite você ou não. Alguns usam, alguns não usam, uns querem outros não. A cara mocinha do comentário não precisa dar um lindo beijo em outra mocinha (entre outras coisas); pode viver tranquilamente com sua sexualidade natural, que, ao que se mostra, é a heterossexualidade. O que é inútil é, de fato, acreditar que se pode aceitar uma coisa que existe naturalmente, como se alguém pudesse não aceitar o evento de um raio: não faz sentido. Menos sentido faria então aceitar o mesmo raio. Ele existe, é natural.
Fica aí, meu sincero desejo de que a mocinha se dê conta da bobagem que disse. E que ninguém mais, num futuro próximo, concorde ou discorde de uma condição natural, mas apenas viva a sua própria e respeite a do outro - um mundo onde conceitos arcaicos de sexualidade, finalmente, desapareçam.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Para dar à alguém de quem se gosta
acorde num domingo,
(sem cumulus)
estratos espalhados
claras em neve
reses de nuvens
penas douradas
em vincos espessos
(estratos sobrados
da chuva que passou...)
mas,
olhe o céu,
aves marítimas ...
um balão,
uma trilha de fumaça,
um reflexo,
que o mar propaga
no para-sempre
(observe o céu
no reflexo do meu olhar
observando o infinito
teu)
Um poema perplexo
um trovão ressoa
dentro
mas não é fome
é algo com(o) um nome
que evito dizer.
(da arte de se enganar
e mal perceber)
um trovão ressoa
dentro
mas não só em mim
(bate um medo de repente
assim, de tarde, do nunca mais
e bem maior,
do para sempre...)
sábado, 24 de agosto de 2013
Conselhos
meu cão que teve mais a me dizer
não diz - pois não fala
logo não fique aí parado
me olhando com distâncias
diga todas as flores que vivem
entre jardineiras e venezianas
agarre-se a mim como um passeio de balão
se agarra ao céu
***
"escave a si
procure seu oriente
lá talvez você encontre
um eu diferente, ao revés
de ponta cabeça
antípoda de você.
ele falará um língua
tão de repente
e te ensinará pólvoras
alfabetos, álgebras
embarcações e gentes
vá buscar o novo continente
no outro lado do mar
do teu corpo
do seu próprio eu, será outro."
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
00h00
um sono me abraça
onde me abarco de cinzas
pálidas do jade vivo
dos teus olhos
furta-cor do pensamento
fruta-pão na paisagem !
um sono requento
pra se ouvir ao relento
da saudade.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
-
então logo eu
refém de mim
precisei decidir ou desistir:
atirar ou reviver.
decido resistir,
viver de me atirar
logo eu: refém da precisão
revivo a imensidão
liberto-me de mim.
domingo, 18 de agosto de 2013
Mariposa Pega Ônibus
a mariposa entrou pela janela
eu ia para a voluntários
o ônibus ia para santana
a mariposa
ia morrer.
desceu num ponto,
ou caiu no chão - não sei.
(desci antes)
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
- -
eu tenho saudade daquela menina meio feia meio boba sentada na escada
ela queria tanto amar
haviam bilhetinhos e livros - muitos livros
pois os livros eram as naus do seu degredo
e o coração disparava a cada segredo
mesmo que fosse o segredo só para si
eu tenho saudade dela
das coisas tolas que passaram, pois eram tolas
e mais nada.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Costumo amanhecer
nuvens cobrem ideias claras
- mas é pra manhã ser mais fresca.
nos teus olhos em poças frias
costumo amanhecer.
desprevejo esquecer
um guarda chuva na neblina.
passarinho matinal
mergulho na poça fria
dos olhos de um bem-querer.
Quintal mundano II
a nevoa será sempre a nevoa
das águas que serão sempre outras
neste quintal mundano
eu nunca saberei se é ela que me cobre
ou eu que a penetro.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Imagine só
publicado primeiramente na engenhoca
temos falado demais
é preciso agora, meu amor
o silêncio.
os planetas alinhados
alinhavarão
teu medo.
temos falado demais
é preciso esquecer, meu amor
teu estado físico.
os planetas nunca
pensarão
sobre isso.
imagine só,
nós
corpos celestes
em
plena
colisão.
temos falado demais
é preciso agora, meu amor
o silêncio.
os planetas alinhados
alinhavarão
teu medo.
temos falado demais
é preciso esquecer, meu amor
teu estado físico.
os planetas nunca
pensarão
sobre isso.
imagine só,
nós
corpos celestes
em
plena
colisão.
domingo, 11 de agosto de 2013
A vida está um perigo
a vida está um perigo:
compramos margarina com sal
passamos de 80
numa rua residencial
pra trocar o blockbuster por um drama alemão
aos domingos, estará abolido o macarrão.
trocamos as violetas
por rosas encarnadas
e vasos de vidro
por copos de cristal
entre palavras violentas
brotarão sonhos de sal
desarrumamos livros estáticos
em estantes dentro de nós:
pois é, irmão
a vida está um perigo...
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Um poema impreciso
hoje, nessa tarde meio madura,
nasce um poema impreciso
de cores e formas
em bocas vazias
é errado, pois cresce no medo
e não rima
com fome e com medo - pra onde irá meu poema?
parido assim pequeno
de dentro de mim.
***
mas que poema é esse, afinal
- será feito de que palavras?
quantos quilômetros
percorrem sua métrica?
ele não diz nada
ou grita? esganado grito
que poema é esse
aflito?
***
eis o poema
poesia de peito rasgado
jorrando abstrata
uma ira quieta
um leão de circo assustado
confundido com fera
poesia de amor incerto
varando quintais outros
que não os dos cegos
era tanta luz à meia tarde
vazando na noite pela porta aberta...
***
ps.: (poesia cansada de velha
recém-nascida
resistir à vida
era tanto sonho à meia noite
vazando na mente
pela boca aberta na tua boca aberta...)
domingo, 4 de agosto de 2013
Rendez-vous
que lindo isso
da gente nem se ver e sorrir
da gente pisar em falso e sorrir
da gente virar do avesso e sorrir
da história nos fazer sorrir
da gente ser a gente
d'eu te saber errado
dum domingo fazer sol e eu tão estático
ter a mente fora de mim
aí.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Poema de dizer tchau
olho de canto: ninguém
pisa no pé da escada
outra vez; te beijo
e se alguém viesse?
ver o beijo
tanto melhor
e se viesse o bloco inteiro?
tanto pior
mas - e se a gente subisse no topo daquele prédio
e, lá, um outro beijo
trouxesse uma revoada
e toda a gente confundisse o que era você, eu, e passarinho
e nem a gente soubesse mais dizer
pairando no céu
acima do chão
(agora eu preciso ir)
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