segunda-feira, 28 de julho de 2014

Cratera


é dito que todos
dentro de ti
tem lunar
uma cratera
feita de escuros
nós e elos
depositamos ali
tal qual aterro
teimas, mitos
ventanias - agreste 

ah, mas por fora,
fora - tantos risos!
vamos ao cinema
domingo

sobrevoamos a cratera
e rimos... 




sábado, 26 de julho de 2014

Poema (ditado pelo espírito...) - III e IV


 more-me miríade !
 ria de mim.

 dê-me medo
 ao meio dia.

 mantenha-se
 imiscuída
 nos restos, cinzas.

 és mural, quimera !
 morre-me cedo
 matutina...

 cala-me flor,
 gotejando
 fina.

 ***

em silêncios
espavoridos
dorme
oblivion

num livro
sem dedicatória
fico
oblivion

e passa, passa
cada dia
conforme
oblivion

"até um dia, à deus"
acordo
e digo;
oblivion.

you, inhabitant
delicate form unknown
lead me straight, regardless
into the depths of oblivion.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Intransponível


se te tomar pela mão
aceita :
varrer com dedos
teu contorno;
prova de mim
o todo -
mesmo que fique
lívido

tomai e comei - este é o meu corpo
fronteira intransponível

tomai e bebei - este é o meu sangue
sem remissão ou benção

apenas vivo

domingo, 20 de julho de 2014

Se meu corpo


 se meu corpo não me pertence, como posso com as mãos tentar tomar um outro - intransigente, raivoso? egoísta - como os homens em princípio e eternidade. antes de levantar a voz já me perdoe: faremos com as memórias o que faríamos da argila - moldar, transformar, suprimir o sólido e criar o oco.
 então guardaremos nelas aquilo que nos parecer melhor.
 preciso aprender com o que toquei. aos amantes as alegorias são fantasias práticas, não pedras de erguer casas. dada a hora, fez-se o tempo de aprender a regra e abandonar a sede das mãos. diante dos grandes prédios ser brutalista e concreto, direto ao coração como a ponta da bala. pois nada é meu. tudo que é possível é a ponte direta, a palavra nua. o resto é máscara para a solidão. 

 mas não é a solidão completa também nua e próxima? há tanto é buraco negro. escrita crassa. comer da solidão é mais humano. mata a sede, afoita. não nega a falta de posse, mas imerge no desdobramento de ser, em ondas pequenas quebradas, múltiplas. então jamais tentarei tomar de assalto qualquer outro universo - lançarei a solidão ao ar e, onda de rádio, ecoará no espaço infinito.

 ***

 eis que, entre solidão e posse, existem as coisas do ar e dos olhos. o dia que nasceu virgem e prossegue dourado - meu? posso chamar de meu o que me contêm? casas, cidade, rua, bar - meu? aniversário, quarto, pensamento - meus? não seria eu das coisas, tão oposto? 
 pertence à mim o corpo ou ao corpo pertenço eu? 
 na dúvida eu abri as portas e fugi pelo dia, tão de ninguém.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Explique-me


 onde perdi meus olhos?
 o que é este ronronar no peito?

  - animal desconhecido, calado, que me observa sem palavras nos olhos
  onde perdeu meus olhos?
  passado o porto dum desespero leve estou assim ... navegante em águas incertas.

  uma fita se desenrola, flutua, gesticula
  ouço uma sinfonia lenta que me abate aos poucos (é manhã)
  mas na boca, o azedo silêncio da ausência -
  contra o café doce. 

quisera
 teu pensamento
 entre minhas mãos
 fosse.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Poema (ditado pelo espírito...) - III


 inseto
 teu som me desperta
 eu, atento ao vôo
 não - ao sono -
 me entrego

 inseto
 roídos muros
 faz morada
 de mim
 dentro

 entristece-me, inseto
 tê-lo dentro
 e não perto.

domingo, 6 de julho de 2014

Íntima


 esquina - caio prado
 alguém fuma
 cigarros

 da sua janela acesa
 fumaça
 abraços

podia ser eu
entre os dedos

 alma aos céus
    e o corpo queimando
     lento.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Monólogo (trecho III)


 [ele] : joana, em verdade
           fecho meus olhos
           na tua ausência.

           sou apenas reminiscência.

           terei outras
           mas serei teu
           como sempre e antes

           entre velhas e secas amantes.

           você me perdoará
           até o novo amanhecer
           entre outros mares

           e marcas de semblantes.

Descobrimentos


 olha-te
 no espelho
 longamente

 fale-te
 grita-te
 espanta-te

 tenta-te
 lamber
 o joelho

 circunavega-te
 eterno
 quebra o encanto

 nada é pecado
 ao sul do queixo.

Sunset


 sunset