sábado, 20 de dezembro de 2014

Dois Versos de Boa Noite


 longe do sol
 que a contorna
 a sombra não é forma

 anoitece e descontornado
 me conto histórias
 para dormir

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Poema (ditado pelo espírito...) - V


 - qual seu nome?

 meu nome?
 não é meu
 nem eu o tenho

 ele é quem me tem

 eu
 não é primeira pessoa
 és antes ou depois

 éres repleto
 sem forma

 um cheio
 nu vazio

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Desejo II

 animal, entra
senta em minha casa

toma minha mão pra si
guia-a dentro
das tuas vísceras
febris

arranca com minha mão
a espada fincada
em ti

 ***

descobre em mim
o nada

esquece meu nome
minha fala
tudo que escrevi

descobre em mim o nada

ali estarei

***

serei teu, violeta
sangue da raça
livre e sem fim

penetra canino
na carne

separando teu corpo
de mim.

Clima, Chuva, Uma noite


 o que há
 é o que não é

 a música, este vento, esta noite
 essa delícia - o gelado no rosto
 e a rapidez com que se esvaem essas noites
 de movimento, tranquilas

 estas coisas todas, hão;
 nós, não.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Insistência


 eu estava naquelas ruas pequenas que acabam no vale, que dão na República, que nunca acabam; do céu pintado caia aquela chuva insistente mas trapaceira - não molho nem paro. andei até a Santa Ifigênia com aquela insistência: tentar esquecer é insistir em lembrar. 

 ainda na Sé, eu pensava - o que serei se esquecer? sem a tragédia, sobra a dissonância soando errada numa peça sem harmonia. eu fico só e meu nome. 

 lembro constantemente da memória que preciso apagar. não como efeito colateral, ou impossibilidade, ou paradoxo; é o objetivo escondido nas frestas. fingimos querer esquecer a modo de nos lembrarmos constantemente - eu piso no vazio com a surpresa da obviedade.

 viro a Nothmann. almoço. sem onde, volto.
  
 tentar esquecer é insistir em lembrar.

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Danço


 o pão
 conforme
 a fome

 o chão
 conforma
 o passo

 eu danço
 conforme
 a lança
 trespassa

 eu danço no espaço
 da fome

 me lanço no espaço
 do rasgo