domingo, 30 de março de 2014

Sinais


 se um copo quebrado
 na mão
 sangrar
  
 ou um medo profundo
 morrer 
 de rir

 és tu, cavaleiro
 da caixa de sapato
 querendo sair

 és tu: cavaleiro
 uma trilha no peito
 abrir



Triste


 és vazio
 por completo

 sob poesia
 sobra concreto





sexta-feira, 28 de março de 2014

À beira do sono


suspenso
à beira do sono
me lembro

não ouso
seu número:
receio

escrever o poema
é enfim
o único meio

de dizer aquilo
à beira do sono
suspenso.

Poemas Outonais


 poetizada folha
 ao vento:

 sem cabimento

 rota fixa:

 colide direta
 com meu pensamento





terça-feira, 25 de março de 2014

Granizo


 algum dia
 eu granizo
 atemporal

 ainda caio
 no quintal
 do teu silêncio

 vai ser tu
 olhando
 da janela

eu à espreita:
                    no vento.


domingo, 23 de março de 2014

Poemas Outonais


- suspiro
espiral
espera
o outono guarda
aguardada fera.
- grito
sazonal
cantiga
o outono mata
a canção antiga.

sábado, 22 de março de 2014

BWV 883


 pelo silêncio
 fiquei surdo:
 não por barulhos

 doce estribilho
 que já não escuto

 ave secreta:
 sopra teu canto
 entre sussurros;

 pelo silêncio
 não por barulhos.








quinta-feira, 20 de março de 2014

Um poema de morrer


 tem gente pedindo o sangue do justo
 no poste
 em nome de deus

 deus anda meio sumido, silencioso:
 quê dirá?
 se não há nada a dizer

 amanhecemos no espanto;
 tem sangue no asfalto

 os culpados sorriem:
 papéis na bolsa
 e salto alto.



segunda-feira, 17 de março de 2014

Ferida


 eu afago o tempo
 como a um gato

 fizemos as pazes:
 já não me arranha

 minha revolução
 não será televisionada

 rasgo o roteiro adaptado
 da vida pré-produzida

 quero comer a realidade
 à mesa não importa como

 talheres de ossos quebrados
 louça de pedra fundida

 buscando no seio rocha
 nascente esquecida

 brotando sangue ou água
 fluindo n'aberta ferida





quinta-feira, 13 de março de 2014

Ausência 2


 nunca mais
 é um de repente
 incessante

 boia frio
 surpreendente
 o instante

 antes fossem
 ditas secas
 as palavras

 "fica: espera
  a hora deserta
  e aguarda"

 mas ditas inversas
 mataram meu conto
 a punhaladas...


Ausência


 disse: some
 tu ausente
 é dor minguante

 qual o quê -
 foi um erro
 latejante

 a lua dissipada
 não é nova
 nem amante

 fico eu arrebatado -
 nunca mais
 é muito grande