quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Sinais III


se um corpo
no sono
queimar

se um verde
num vinco
se abrir

és meu, cavaleiro
desperto do encanto
brotar

sou teu, cavaleiro
uma rota de fuga
surgir

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Segredo (Prelúdio)


ficam cores gris
tons de partida, medram
pedras ruínas de outras vidas
que vivemos nessa

serão dos muros vindouros
desta história latente
ponto de partida

calados diremos, arrimo
vigas sólidas em ferro


Segredo II


 permita-me estar aceso
 na rua mais calma

 caso o barco lançado não chegue
 nas tuas costas

 permita-me jogar na areia caco
 pedra peito e rosa

 esperar o pé, sangrando
 voltar manco à casa

 chorar uma noite, lavar-se todo de azul
 cobertas de estrelas

 permita-me estar em chama
 fina geada ou sombra

 velar-te vivo. festejar o sopro

 descender em espirais que inspiras

 descobrir este segredo que a noite encerra




Segredos I


 cavocas minha pele
 me adentras
 lá encontra pedras, fendas, cristais
 coisas que eu não sabia

 o raro em mim me fascina
 eu pego na mão seixos luminosos

 o seio da terra era eu
 eu não sabia


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Memória / Loucura


 o verão apaga o inverno, mas fazia frio, e a tarde deixava cinza a cidade cinza, e os carros zuniam abaixo dos pés, na histeria louca de buscar no fim das coisas o que se encontra no meio delas - o trajeto é o objetivo, necessário andar em tempos sedentos, urgentes. e são tempos em que tudo se acompanha de trilha sonora, mesmo experimentar o vazio. não só o vazio da caminhada solitária pelo viaduto mas pelo vazio da primeira descoberta: a vida é o trajeto, não os fins que ela encerra. e que amar era essa ponte pro outro e esse assombro de reconhecer nele o mesmo abismo de morrer. todo o romantismo surge duma farsa, o amor pedia a reinvenção de tudo. do outro lado do ringue materialista era aquela saudade absurda ... 
 e toda a realidade em pontas afiadas, e o ser fina membrana, célula solta no espaço. a gente finge não ver a pessoa na janela e ela finge ignorar o caminhante solitário mas eis ambos na realização de existir - o outro em seu desconhecido te vê e te sabe. as formas tênues das coisas se revelam, se despem, a razão dos prédios, a razão das plantas, o medo do assalto e onde se pode comer num domingo já ao anoitecer, quando as coisas estão tão quietas e tão amedrontadas por poderem voltar a representar a segunda, enésimo ato da peça que criamos mas botamos a culpa em deus, na moral, na sociedade, no direito na lei na propriedade privada etc. uma mulher cansada sai do seu trabalho e pega um ônibus meio vazio em direção ao jardim ( ) e comemora a folga quando todos trabalham. alguns não querem representar e se matam.

 ***

 insisto em encontrar no amor romântico, nessa vontade adolescente louca copiosa kitsch clichê ai que delícia! a causa dum mal terrível, o fim da razão, uma farsa. porém: como aprenderemos? e se a loucura aparente for a prevenção contra a loucura real? o impulso de se envolver com essa incógnita que é o outro, e querer se doar assim nos prevenindo da solidão iminente... qual o limite entre farsa e criação? quando criamos aquilo que nos encanta, nos ensina, nos nutre, e vivemos de forma real o inventado, onde termina o limite do real é... ah, eu andei muitas ruas com o coração na mãos, vivendo aquilo que criei mas também o outro proporcionou. vejo aos poucos que o amor se pode criar, e moldar, e nutrir. e inventando o amor assim escapo de inventá-lo acreditando na sua existência magna, como se fosse um raio que caindo na minha cabeça, me derruba. separado de mim.
 para a seca, que a resposta sejam as torrentes. 

Tarefa


 as unhas roem o corpo

 o futuro presente chegou
 em torrente, apaga
 as direções nos mapas

 os retratos estáticos
 não nos contam nada...
 demasiados onipresentes, ser deus nos cansa

 as unhas roem o corpo
 e as escamas, pétalas sujas, deixam rastros humanos
 na terra rasgada.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Poemas Latinos


 oí la tierra temblar
 era medianoche - me tomaban por la mano
 unas ganas - e tirarme al mar

 ***

 despertando seco
 sonho um peixe
 da ilha de chiloé

***

no estaba allá la virtud
y la tomó el hombre;
ni tampoco la tierra es de la justicia madre, origen

construyamos todo
seamos piedra y albañil

caerán los castillos donde viven sueños de plata
y las bolsas de valores serán fantasias
cubiertas de muzgo y flor

***

bastardos de bandeiras
paulistas, armada espanhola

sentimos dor pela manhã. um grito fantasmático
tosse.

ainda é vermelha a costa
onde coroas disfarçadas
impõe tratados
aos neocolonizados.