domingo, 24 de novembro de 2013

Desmáscara


 sabe, vou contar:
 essa coisa de poesia e tal
 é uma grande bobagem

 a gente mente
 tudo que sente

 pra alguém com sonhos
 acreditar

 é uma pena: às vezes
 eu também me acredito

 acabo por dar derradeiro
 o passo em falso
 no engano vazio...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Novembro


 estão aí
 outras
 as chuvas
 de novembro

 como me matam essas chuvas!

 fazem nascer alagamentos;
 deixam presas no engarrafamento
 as poesias por nascer...

domingo, 17 de novembro de 2013

19


 refazer anos:
 os dezesseis
 nus. esquecer
 a obrigação
 da coerência:
 amar tudo, e
 odiar o que
 for. esquecer
 o que aprendi;

 amar profundo
 a desobediência
 à mim.

***

 (entretanto, fiz um 
 novo ano, coberto.
 seguindo à risca
 regras de ser feliz
 e coerência interna.
 amo em silêncio:
 odeio sem saber...
 aprendo, aprendo, apreenso
 me obedeço;
 arrependido
 de não me arrepender...).

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Fin

I

 te envio uma carta
 sem remetente
 talvez meu nome
 não te faça perceber
 que fui eu que a enviei

 por não falarmos bem
 com palavras comuns
 é uma carta de desenhos.

 desenhei um sol, por que gosto
 e uma estrela. igual àquela.

 desenhei um retrato teu
 à moda de Saint-Exupéry
 então, perdoe-me
 foi o que encontrei de mais fiel. você é a rosa.

 há uma pedinte no canto direito.
 dê algo pra ela comer,
 cuide dos bichos dela.

 no canto esquerdo
 há um angorá pardo.
 não há o que dizer dele.

 além disso, há pedaços
 dum papel rasgado
 foi um bilhete
 de cinema. um dia. apagou-se
 tudo um dia se apaga.

 perdão, achei necessário
 falar disso. há mortes necessárias.

 no mais, o de sempre,
 desenhei um parênteses. eis minha vida
 olhe atento, cuidado
 pela fresta: um vislumbre
 do mato fresco. brejeirando
 rindo alto. ou cantando
 melancólico. bah - você nem sabe
 do trabalho da terra! viagens
 pequenas viagens,
 e o sono que dá, o sono...

 não pense em responder!
 suas respostas estão aqui
 prontas. hipotético delivery
 me entregam diariamente
 junto com a manhã
 o trem e a preguiça:

 nenhuma
 abri - nenhuma

 prefiro elas ali, em silêncio.

 31/10/1979