te envio uma carta
sem remetente
talvez meu nome
não te faça perceber
que fui eu que a enviei
por não falarmos bem
com palavras comuns
é uma carta de desenhos.
desenhei um sol, por que gosto
e uma estrela. igual àquela.
desenhei um retrato teu
à moda de Saint-Exupéry
então, perdoe-me
foi o que encontrei de mais fiel. você é a rosa.
há uma pedinte no canto direito.
dê algo pra ela comer,
cuide dos bichos dela.
no canto esquerdo
há um angorá pardo.
não há o que dizer dele.
além disso, há pedaços
dum papel rasgado
foi um bilhete
de cinema. um dia. apagou-se
tudo um dia se apaga.
perdão, achei necessário
falar disso. há mortes necessárias.
no mais, o de sempre,
desenhei um parênteses. eis minha vida
olhe atento, cuidado
pela fresta: um vislumbre
do mato fresco. brejeirando
rindo alto. ou cantando
melancólico. bah - você nem sabe
do trabalho da terra! viagens
pequenas viagens,
e o sono que dá, o sono...
não pense em responder!
suas respostas estão aqui
prontas. hipotético delivery
me entregam diariamente
junto com a manhã
o trem e a preguiça:
nenhuma
abri - nenhuma
prefiro elas ali, em silêncio.
31/10/1979
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