quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Fin

I

 te envio uma carta
 sem remetente
 talvez meu nome
 não te faça perceber
 que fui eu que a enviei

 por não falarmos bem
 com palavras comuns
 é uma carta de desenhos.

 desenhei um sol, por que gosto
 e uma estrela. igual àquela.

 desenhei um retrato teu
 à moda de Saint-Exupéry
 então, perdoe-me
 foi o que encontrei de mais fiel. você é a rosa.

 há uma pedinte no canto direito.
 dê algo pra ela comer,
 cuide dos bichos dela.

 no canto esquerdo
 há um angorá pardo.
 não há o que dizer dele.

 além disso, há pedaços
 dum papel rasgado
 foi um bilhete
 de cinema. um dia. apagou-se
 tudo um dia se apaga.

 perdão, achei necessário
 falar disso. há mortes necessárias.

 no mais, o de sempre,
 desenhei um parênteses. eis minha vida
 olhe atento, cuidado
 pela fresta: um vislumbre
 do mato fresco. brejeirando
 rindo alto. ou cantando
 melancólico. bah - você nem sabe
 do trabalho da terra! viagens
 pequenas viagens,
 e o sono que dá, o sono...

 não pense em responder!
 suas respostas estão aqui
 prontas. hipotético delivery
 me entregam diariamente
 junto com a manhã
 o trem e a preguiça:

 nenhuma
 abri - nenhuma

 prefiro elas ali, em silêncio.

 31/10/1979

 

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