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terça-feira, 21 de junho de 2016

Lamento


 oro em prata
 choro em ouro


 terno soco      
 ou fissura
 no fígado
 súbita ternura

 clamor duma ausência
 bandeira branca, nunca

 punch veludo
 choro rouco
 luta, luta... 
 
 clamor duma ausência
 bandeira branca, nunca




terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Segredo (Prelúdio)


ficam cores gris
tons de partida, medram
pedras ruínas de outras vidas
que vivemos nessa

serão dos muros vindouros
desta história latente
ponto de partida

calados diremos, arrimo
vigas sólidas em ferro


Segredo II


 permita-me estar aceso
 na rua mais calma

 caso o barco lançado não chegue
 nas tuas costas

 permita-me jogar na areia caco
 pedra peito e rosa

 esperar o pé, sangrando
 voltar manco à casa

 chorar uma noite, lavar-se todo de azul
 cobertas de estrelas

 permita-me estar em chama
 fina geada ou sombra

 velar-te vivo. festejar o sopro

 descender em espirais que inspiras

 descobrir este segredo que a noite encerra




Segredos I


 cavocas minha pele
 me adentras
 lá encontra pedras, fendas, cristais
 coisas que eu não sabia

 o raro em mim me fascina
 eu pego na mão seixos luminosos

 o seio da terra era eu
 eu não sabia


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Memória / Loucura


 o verão apaga o inverno, mas fazia frio, e a tarde deixava cinza a cidade cinza, e os carros zuniam abaixo dos pés, na histeria louca de buscar no fim das coisas o que se encontra no meio delas - o trajeto é o objetivo, necessário andar em tempos sedentos, urgentes. e são tempos em que tudo se acompanha de trilha sonora, mesmo experimentar o vazio. não só o vazio da caminhada solitária pelo viaduto mas pelo vazio da primeira descoberta: a vida é o trajeto, não os fins que ela encerra. e que amar era essa ponte pro outro e esse assombro de reconhecer nele o mesmo abismo de morrer. todo o romantismo surge duma farsa, o amor pedia a reinvenção de tudo. do outro lado do ringue materialista era aquela saudade absurda ... 
 e toda a realidade em pontas afiadas, e o ser fina membrana, célula solta no espaço. a gente finge não ver a pessoa na janela e ela finge ignorar o caminhante solitário mas eis ambos na realização de existir - o outro em seu desconhecido te vê e te sabe. as formas tênues das coisas se revelam, se despem, a razão dos prédios, a razão das plantas, o medo do assalto e onde se pode comer num domingo já ao anoitecer, quando as coisas estão tão quietas e tão amedrontadas por poderem voltar a representar a segunda, enésimo ato da peça que criamos mas botamos a culpa em deus, na moral, na sociedade, no direito na lei na propriedade privada etc. uma mulher cansada sai do seu trabalho e pega um ônibus meio vazio em direção ao jardim ( ) e comemora a folga quando todos trabalham. alguns não querem representar e se matam.

 ***

 insisto em encontrar no amor romântico, nessa vontade adolescente louca copiosa kitsch clichê ai que delícia! a causa dum mal terrível, o fim da razão, uma farsa. porém: como aprenderemos? e se a loucura aparente for a prevenção contra a loucura real? o impulso de se envolver com essa incógnita que é o outro, e querer se doar assim nos prevenindo da solidão iminente... qual o limite entre farsa e criação? quando criamos aquilo que nos encanta, nos ensina, nos nutre, e vivemos de forma real o inventado, onde termina o limite do real é... ah, eu andei muitas ruas com o coração na mãos, vivendo aquilo que criei mas também o outro proporcionou. vejo aos poucos que o amor se pode criar, e moldar, e nutrir. e inventando o amor assim escapo de inventá-lo acreditando na sua existência magna, como se fosse um raio que caindo na minha cabeça, me derruba. separado de mim.
 para a seca, que a resposta sejam as torrentes. 

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Shot VII


 "querido diário. hoje, enquanto fazíamos amor, encontrei uma pinta nova nele. nunca havia visto essa. é bonita. fiquei surpresa e brava. como, em cinquenta e quatro anos, nunca havia visto essa?"

Shot I


 se conheciam há dois meses. afinidados - se doavam em tom igual. quando um resolveu tocar mais lento, o outro assustou - melhor parar. "estamos rápidos demais".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Momentos / Memento


 quem descreverá o espaço entre a borda e o abismo?
 quem tentou ficou no meio
 quem imagina fica mudo

 eu flutuo no espaço
 do instante
 em que alcanço
 o fundo

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Insistência


 eu estava naquelas ruas pequenas que acabam no vale, que dão na República, que nunca acabam; do céu pintado caia aquela chuva insistente mas trapaceira - não molho nem paro. andei até a Santa Ifigênia com aquela insistência: tentar esquecer é insistir em lembrar. 

 ainda na Sé, eu pensava - o que serei se esquecer? sem a tragédia, sobra a dissonância soando errada numa peça sem harmonia. eu fico só e meu nome. 

 lembro constantemente da memória que preciso apagar. não como efeito colateral, ou impossibilidade, ou paradoxo; é o objetivo escondido nas frestas. fingimos querer esquecer a modo de nos lembrarmos constantemente - eu piso no vazio com a surpresa da obviedade.

 viro a Nothmann. almoço. sem onde, volto.
  
 tentar esquecer é insistir em lembrar.

 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Perguntar


 "no sonho, era assim: você estava entre nós. você tinha 14 anos. você era amável e doce teimoso, me gelando a espinha. insuportável leveza, e a culpa - o juri te condenará pela eternidade pela leveza pintada a mão."

 ser é leve ou pesado? eu estava prester a dizer que dói viver, mas então me dou conta que não sei. para se afirmar algo é preciso a confirmação, a nota de rodapé necessária, o asterisco. é necessário abrir o sapo das coisas e ver um coraçãozinho batendo frágil, caberia num relógio de pulso e afirmaria que sim: dói a vida. eu não abri o sapo então não sei, não direi que dói, pergunto to whom it may concern: dói viver? é leve viver? é pesado viver no fundo? no fundo dói? e na superfície? e na pele? e viver na pele? e viver fora dela? 

 você ora antes de dormir? como você pensa deus? ao redor da sua boca vivem criaturas fantásticas que não pensam em nada, elas nadam, nadam, nadam... no café pela manhã. e então nos apoios do metrô, e nos corrimões, então na sua mesa, nas mãos dos colegas, e as criaturas rapidamente se trocam e se conhecem e partem. elas liquidamente trocam amor e ódio e nada, enquanto você dá o gole no copo de outra pessoa. pensou nisso? o que é conhecer o obscuro de nossos pensamentos? quando que eu fecho os olhos e sonho: você estava entre nós, 14 anos, amável e teimoso (eu não te conheci com 14 anos, o que torna o sonho mais obscuro). olhando de cima veja, tal como as criaturas ao redor dos nossos lábios nós somos, logo mortos e portanto infinitos no nosso existir. tudo nos ignora, e ignoramos quase todo o resto, mesmo assim... a persistência do pequeno mistério das coisas: ser é leve ou pesado? é propósito, despropósito, ou propósito em não ser absolutamente nada, desprovido de causa e destino? rapidamente trocamos impressões superficiais de existir e logo nos partimos em vários - melhor buscar alívio ao lado - queremos nos deletar, nos suprimir, nos resetar, porém impossível é pois aí estamos no pequeno pulsar, mistério de ser, pergunta: leve ou pesado? incrível essa leveza, não acredito e nego, eu sei cada peso que me puxa para baixo, baixo onde não sei, mas insisto.

 todos puxados para baixo, mas você flutua, e seus pares, e suas danças, e seus pares, tantos outros... por quê alguns afundam tanto? alguns não suportam e perdem todo o ar, a consciência, tomam pílulas e perecem, acordarão na praia do alvorecer, num outro tempo se é que existe. você não tomará pílulas, tomando drinks de normatidão e leveza. dói ser leve também? e pela noite, como fica? contarei: pela noite é mais difícil. meu sono é profundo, antes eu tinha medo de dormir até. podia até ter a pachorra de pensar em cada uma das criaturas vivendo no meu corpo, e no que viviam e por quê viviam elas, e vinha o medo - pensei já também em você. você nada ao redor dos meus sonhos, nada nada, pensando no infinito vazio e rapidamente se desfazendo. mas a noite como será teu sono? pesado ou leve? como se pesa o sono, e o sonho? é por kilo? 

 no final do corredor, a morte vara e ronda. eis-te. é leve ou pesa? ou ignora? eu queria, acima de tudo, te contar como eu não ignoro a morte, ela vem e conversa comigo. talvez, assim, eu fosse a ti objeto de amor - uma fantasia rara, beirando a seriedade mas ainda sim apenas pobre. pois, de fato, assim como as criaturinhas nas nossas unhas e mucosas não queremos amor, queremos permanecer, queremos perpetuar, queremos nos reproduzir em ideias e lembranças e estigmas. ninguém há de querer amor de ninguém, pois amor é a mão lançada - 

 espera. para afirmar preciso do asterisco, do cientista. não sei mais portanto e pergunto: amar é a mão lançado ao outro? queremos amor? queremos furor e suor e cansarmos? dói querer? 

 dói perguntar

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Explique-me


 onde perdi meus olhos?
 o que é este ronronar no peito?

  - animal desconhecido, calado, que me observa sem palavras nos olhos
  onde perdeu meus olhos?
  passado o porto dum desespero leve estou assim ... navegante em águas incertas.

  uma fita se desenrola, flutua, gesticula
  ouço uma sinfonia lenta que me abate aos poucos (é manhã)
  mas na boca, o azedo silêncio da ausência -
  contra o café doce. 

quisera
 teu pensamento
 entre minhas mãos
 fosse.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Poema (ditado pelo espírito...) - III


 inseto
 teu som me desperta
 eu, atento ao vôo
 não - ao sono -
 me entrego

 inseto
 roídos muros
 faz morada
 de mim
 dentro

 entristece-me, inseto
 tê-lo dentro
 e não perto.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Elevado, elevado


elevado:
a chuvarada
lavou
meu passo

quem seria costa e Silva?
eu
te rebatizaria

vou te andar num sábado
 - te voltar domingo

 - te deixar pra sempre
e guardar comigo.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Poemas Outonais III


 por favor
     - parta
 no ar da tarde
 a falta

 peço,
  - reparta
 dê de comer
 à ausência

 até que fique farta.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Poeira fina


 amor disse
 afoito
 lhe mordesse
 al dente

 amordaça
 a boca

 amor talha
 a carne

 amor fina
 a calma

 amor tece
 a alma
 em longos silvos
 fios de prata



sexta-feira, 28 de março de 2014

À beira do sono


suspenso
à beira do sono
me lembro

não ouso
seu número:
receio

escrever o poema
é enfim
o único meio

de dizer aquilo
à beira do sono
suspenso.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Poema (ditado pelo espírito...) - II


 eu não sei fazer poemas
 você atreve

 me esmiuça feito um bicho
 de cinco pernas
 e corpo leve

 se eu morrer, não reclame
 se eu correr, não se mate
 se eu voar, não desate
 se eu morder, não entregue

 você que insiste, menino
 esmiuçando a vida breve...

Poemas (ditado pelo espírito...)


 enquanto você estiver em silêncios
 nada importa

 podem acumular as poeiras
 milenares
 ou virem canto dum pássaro
 madrugueiro

 ninguém acordará
 nem eu 

 no silêncio você constrói uma casa de pedras lisas
 gasosas
 era manhã. na hora sem sombras

 só a tua
 sol a sol









sábado, 21 de setembro de 2013

Sobre a Avenida



 _ em frente à livraria
    no caminhar dos desconhecidos
    o dia bafeja o perfume doce
    comprado em liquidação

    ali em frente à livraria, o tempo virou,
    e sobre a avenida
    o dia bafeja esse perfume alheio
   
  (como pôde imitar com perfeição
   adivinhar o verso livre
   e me entregar travesso? tarde clara

   um perfume do qual nunca esqueço
   guardado em alto relevo
   nos mármores meandros de mim).
 
 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Costumo amanhecer


 
 nuvens cobrem ideias claras
 - mas é pra manhã ser mais fresca.

 nos teus olhos em poças frias
 costumo amanhecer.

 desprevejo esquecer
 um guarda chuva na neblina.

 passarinho matinal
 mergulho na poça fria

 dos olhos de um bem-querer.