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terça-feira, 4 de abril de 2017

Cecília



 cheirosa de alfazemas
 vovó-mascava; doce
 boldo fresco pra digestiva.
 da horta da casa do quarto
 às cinco (e meia)
 sussurro de rádio, pilha.
 netos sonolentos à soleira
 para escutar coisas
 de brasília.

 madeirense desperta cantando acorda maria bonita.


 morreu de câncer;
 misterioso pâncreas. orava muito e não merecia.
 era humana
 79 anos, natural de Câmara de Lobos
 viúva. viva.
 




quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O que está, é


 seco com os olhos o pulsar da barra. ela me aguarda. mas hoje, hoje,
 hoje eu não tenho o que escrever - eu minto.
 ela prossegue no aguardo, como quem sabe e nem desconfiaria do contrário. me deixe estar hoje,
 pelo menos

 'nem pense' - e pulsa

 'eu não só sei como vejo'
 'você anda lendo aqueles velhos textos, vendo fotos antigas, eu vejo você
  caçando percevejos
  em arcas perdidas. revolvendo amores frios pra ver se encontra algum arrepio, um postal, selos'

 'leia os clássicos' 'coma menos' 'diga apenas diga, escreva com o estômago pois as mãos estão cansadas'

 eu escrevo com o estômago. o cérebro pensa, a mão digita, mas quem escreve é a víscera crua mesmo, assim sem repulsa ou decoro. mágica, ela tira a fita comprida colorida e infinita que parecia não estar lá - um coelho, uma moeda - e de repente sai uma festa que deu errado um copo de whiskey cerveja vodka ou percevejos em arcas perdidas. foto que eu guardei (virtual e cruelmente). um dia de chuva e eu na marquise olhando o teto cair e a santa cecília pedir: menos, menos, calma que a gente é fraca e o santo é pouco... a parte triste é o que sai da gente não poder ser lido por mais ninguém, ninguém entende o que quer ser dito nem o que se tentava dizer. eu não quero mais dizer nada, bote meu estômago para dormir, eu quero falar em cinema, imagens dispersas de dias que acabaram e não falam mais nada. o passado está morto, o que está é, e o que sobra se faz agora.

 'eu sei'
 'pode dormir'

domingo, 27 de abril de 2014

Consequência

sentido raso
clara praia:
criança afoita
na areia

cava um buraco
negro
que no peito toca
a artéria

passarão marés
migratórias
constelações
aves vermelhas

fica o buraco fundo
cavado
na areia.

terça-feira, 25 de março de 2014

Granizo


 algum dia
 eu granizo
 atemporal

 ainda caio
 no quintal
 do teu silêncio

 vai ser tu
 olhando
 da janela

eu à espreita:
                    no vento.


quinta-feira, 13 de março de 2014

Ausência 2


 nunca mais
 é um de repente
 incessante

 boia frio
 surpreendente
 o instante

 antes fossem
 ditas secas
 as palavras

 "fica: espera
  a hora deserta
  e aguarda"

 mas ditas inversas
 mataram meu conto
 a punhaladas...


Ausência


 disse: some
 tu ausente
 é dor minguante

 qual o quê -
 foi um erro
 latejante

 a lua dissipada
 não é nova
 nem amante

 fico eu arrebatado -
 nunca mais
 é muito grande