quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O que está, é


 seco com os olhos o pulsar da barra. ela me aguarda. mas hoje, hoje,
 hoje eu não tenho o que escrever - eu minto.
 ela prossegue no aguardo, como quem sabe e nem desconfiaria do contrário. me deixe estar hoje,
 pelo menos

 'nem pense' - e pulsa

 'eu não só sei como vejo'
 'você anda lendo aqueles velhos textos, vendo fotos antigas, eu vejo você
  caçando percevejos
  em arcas perdidas. revolvendo amores frios pra ver se encontra algum arrepio, um postal, selos'

 'leia os clássicos' 'coma menos' 'diga apenas diga, escreva com o estômago pois as mãos estão cansadas'

 eu escrevo com o estômago. o cérebro pensa, a mão digita, mas quem escreve é a víscera crua mesmo, assim sem repulsa ou decoro. mágica, ela tira a fita comprida colorida e infinita que parecia não estar lá - um coelho, uma moeda - e de repente sai uma festa que deu errado um copo de whiskey cerveja vodka ou percevejos em arcas perdidas. foto que eu guardei (virtual e cruelmente). um dia de chuva e eu na marquise olhando o teto cair e a santa cecília pedir: menos, menos, calma que a gente é fraca e o santo é pouco... a parte triste é o que sai da gente não poder ser lido por mais ninguém, ninguém entende o que quer ser dito nem o que se tentava dizer. eu não quero mais dizer nada, bote meu estômago para dormir, eu quero falar em cinema, imagens dispersas de dias que acabaram e não falam mais nada. o passado está morto, o que está é, e o que sobra se faz agora.

 'eu sei'
 'pode dormir'

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