quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Por quê você não pode concordar com a homossexualidade


 Eu não concordo com a homossexualidade. Aliás, ninguém deveria.

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 Sempre que acabo de ler um artigo, leio os comentários abaixo caso existam. À parte da batalha cega de opiniões, alguns chamam a atenção pela sinceridade natural. Reproduzo um, lido logo abaixo de um artigo sobre machismo: " ... E se ela (uma pessoa) procura, todos os dias, fazer bem a todos e se preocupar com o próximo, porém SEM DISCRIMINAR, não concorda com o (sic) homossexualismo?"
 Oras, mas não é mesmo possível concordar com a homossexualidade, minha cara - assim como é impossível também discordar. Como alguém poderia concordar ou não com uma condição inerente à uma pessoa? Fico imaginando se a mocinha tal do comentário debaterá consigo mesma se ela concorda ou discorda da raça negra ou das pessoas com deficiências (sem discriminar, logicamente). 

 Aliás: tratar condições inerentes à uma pessoa como escolha pessoal já é, em grande parte, discriminação. É permitir que se possa "discordar" - convertendo preconceito em uma pretensa opinião, fundamentada em religião, moralismo ou pura e simples ignorância. Parece então mais fácil pintar de opinião a intolerância à reciclar velhos pensamentos; dói mudar, né?

 Também incomoda um pouquinho ver aqueles que, ao contrário da mocinha do comentário, "concordam" com a homossexualidade: sentem-se orgulhosos por terem amigos homossexuais no círculo social, exaltam a liberdade de escolha da sexualidade, se alegram com o aparente exotismo do mundo gay, dos chavões, estereótipos, et cetera. É bom que haja um apoio à aceitação e à tolerância: mas jamais a criação de uma aura de diferença entre homos e héteros. Em comparação, a homossexualidade pode ser aparentemente menos comum - porém é condição sexual de mesmo valor, não sendo nada bom colocá-la num lugar diferente, como uma alternativa à condição sexual "normal", que seria a hétero.

 Mas vem lá mocinha e, hipoteticamente, diz: bom, digamos que você esteja certo. Mas eu posso não aceitar a homossexualidade, e aí? 

 Você pode não aceitar a existência da segunda feira, do seu time adversário, da cor azul e do refrigerante que você não gosta. Sendo essas coisas obviamente tão diferentes da homossexualidade, tem com ela uma coisa em comum com milhares de outras: existem simplesmente, aceite você ou não. Alguns usam, alguns não usam, uns querem outros não. A cara mocinha do comentário não precisa dar um lindo beijo em outra mocinha (entre outras coisas); pode viver tranquilamente com sua sexualidade natural, que, ao que se mostra, é a heterossexualidade. O que é inútil é, de fato, acreditar que se pode aceitar uma coisa que existe naturalmente, como se alguém pudesse não aceitar o evento de um raio: não faz sentido. Menos sentido faria então aceitar o mesmo raio. Ele existe, é natural.

 Fica aí, meu sincero desejo de que a mocinha se dê conta da bobagem que disse. E que ninguém mais, num futuro próximo, concorde ou discorde de uma condição natural, mas apenas viva a sua própria e respeite a do outro - um mundo onde conceitos arcaicos de sexualidade, finalmente, desapareçam.

Um comentário:

Kaio disse...

Mais textos assim, pfvr! <3
Minha quase única crítica é a essa parte do texto: "É bom que haja um apoio à aceitação e à tolerância: mas jamais a criação de uma aura de diferença entre homos e héteros."

Quando a causa pelos direitos dos LGBTrans* (embora você tenha se referido as dos homossexuais) estão em pauta, é justamente com o objetivo da visibilidade. Afinal, se eles não fossem tão diferentes ou apagados assim - na política, no dia-a-dia, na diversidade humana - porque eles exigiriam uma causa só deles? É justamente por reconhecerem suas diferenças e quererem incorporá-las a sociedade que esses grupos lutam por uma diferença "ornamental", pois tanto a diferença como a igualdade revelam hoje um caráter periférico e agressor, dependendo do contexto em são citados, e é artificial por se basear num pressuposto de que há igualdades humanas inerentes a maioria de nós; uma diferença política, já que para os heterossexuais não é preciso uma lei que recrimine o preconceito à prática heteronormativa ou uma lei que legalize o casamento civil; ou ainda, uma diferença social, já que tantos os homossexuais quanto o resto do grupo dos sexodiversos são segregados por suas diferenças e na maioria das vezes sequer conseguem conhecer a sua sexualidade.
Enfim, o que eu quero dizer é que, para nós, importa dizer que somos diferentes, pois importa que a sociedade esteja aberta ao que para ela pareça "não habitual". Sendo esse um debate válido ou não, há de se exigir respeito mesmo com os indivíduos diferentes, sejam essas diferenças quais forem. Ou sempre que conhecermos alguém diferente nos permitiremos às atrocidades opressoras, de julgá-las amorais e diferentes de nós, não-humanas.