o motorista do ônibus dirige o ônibus. não há ar condicionado. o motorista coberto em suor ri dos passageiros cobertos em suor. atire-me aos leões, mas venha comigo (banhado em suor); o verão não é pra principiantes. o inverno não é pros fracos. às quatro da manhã as máquinas asfaltavam a rua da minha casa. as obras são pra quem dorme de protetor auricular; o prefeito então apareceu pela manhã num evento. os discursos políticos são pra quem usa protetores auriculares (eu não estava lá). os fascistas antigamente usavam uniformes; hoje em dia eles vão à barbearia e tomam café da maquininha, compram roupa no shopping e riem de todos nós. nem todos são conservadores - tenho a impressão que os fascistas na verdade não gostam do que tem nome. o que tem nome se toca e vê, e dói.
vamos lá: num ônibus. um homem roça o pau em mim e fica duro. eu roço o braço no pau dele. ninguém fala nada, olho pra cima, pisco o olho. pego no pau dele. ele desce no ponto eu desço atrás. aí na próxima esquina ele me mete um soco e vai embora. e se goza todo. eu banhado em sangue. ele todo gozado. alguém lê isso, e fica duro.
nada disso aconteceu com exceção da última frase. só suponho.
nos anos 2000 ninguém mais lia poesia; agora ninguém mais lê prosa também mas há muitos livros de fantasia nas estantes. no ônibus (para o inferno) a mulher da frente assistia um vídeo evangélico que falava assim (etc) o homem pediu que deus falasse com ele e deus mandou um pássaro e o homem não ouviu, um raio não ouviu, um peido (etc) aí no fim o homem a) se converteu b) se fudeu. ela respondeu à amiga que mandou o vídeo: que lindoooooo. eu pedi a deus ARRUME O AR CONDICIONADO mas deus não ouviu e cheguei no ponto. em ponto morto.
as máquinas de asfalto continuavam soltas.
vi um vídeo (!) de um bot que tinha escrito um livro da série Harry Potter. a sintaxe era dez; semântica, nenhuma. ri muito. uns moleques ingleses liam o texto. vi outros vídeos e descobri que eles faziam piadas racistas (eram todos homens brancos). às vezes falavam mal dos commies. fechei o computador com desgosto. os fascistas não levam o que é bobo à sério - o bobo é seriíssimo. o bobo renomeia as coisas, traz à tona. então é aí que, vendo, a gente dói.
bom sábado.
Um comentário:
Adorei. Sobreviva...
Nao esta fácil para ninguém, as almas estao miseráveis e nao vao se curar.
Ri alto, o texto foi bom.
Saudades de Sao Paulo.
Vc já leu o titio Buck? John Fante?
Me pergunto se chegamos tarde de mais para escrever em primeira pessoa...
Legal ver que seu blog ainda existe, um fenomeno!
Saldacoes amigaveeeeeeis
Luma
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