domingo, 31 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Sinais III
se um corpo
no sono
queimar
se um verde
num vinco
se abrir
és meu, cavaleiro
desperto do encanto
brotar
sou teu, cavaleiro
uma rota de fuga
surgir
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Segredo (Prelúdio)
ficam cores gris
tons de partida, medram
pedras ruínas de outras vidas
que vivemos nessa
serão dos muros vindouros
desta história latente
ponto de partida
calados diremos, arrimo
vigas sólidas em ferro
Segredo II
permita-me estar aceso
na rua mais calma
caso o barco lançado não chegue
nas tuas costas
permita-me jogar na areia caco
pedra peito e rosa
esperar o pé, sangrando
voltar manco à casa
chorar uma noite, lavar-se todo de azul
cobertas de estrelas
permita-me estar em chama
fina geada ou sombra
velar-te vivo. festejar o sopro
descender em espirais que inspiras
descobrir este segredo que a noite encerra
Segredos I
cavocas minha pele
me adentras
lá encontra pedras, fendas, cristais
coisas que eu não sabia
o raro em mim me fascina
eu pego na mão seixos luminosos
o seio da terra era eu
eu não sabia
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Memória / Loucura
o verão apaga o inverno, mas fazia frio, e a tarde deixava cinza a cidade cinza, e os carros zuniam abaixo dos pés, na histeria louca de buscar no fim das coisas o que se encontra no meio delas - o trajeto é o objetivo, necessário andar em tempos sedentos, urgentes. e são tempos em que tudo se acompanha de trilha sonora, mesmo experimentar o vazio. não só o vazio da caminhada solitária pelo viaduto mas pelo vazio da primeira descoberta: a vida é o trajeto, não os fins que ela encerra. e que amar era essa ponte pro outro e esse assombro de reconhecer nele o mesmo abismo de morrer. todo o romantismo surge duma farsa, o amor pedia a reinvenção de tudo. do outro lado do ringue materialista era aquela saudade absurda ...
e toda a realidade em pontas afiadas, e o ser fina membrana, célula solta no espaço. a gente finge não ver a pessoa na janela e ela finge ignorar o caminhante solitário mas eis ambos na realização de existir - o outro em seu desconhecido te vê e te sabe. as formas tênues das coisas se revelam, se despem, a razão dos prédios, a razão das plantas, o medo do assalto e onde se pode comer num domingo já ao anoitecer, quando as coisas estão tão quietas e tão amedrontadas por poderem voltar a representar a segunda, enésimo ato da peça que criamos mas botamos a culpa em deus, na moral, na sociedade, no direito na lei na propriedade privada etc. uma mulher cansada sai do seu trabalho e pega um ônibus meio vazio em direção ao jardim ( ) e comemora a folga quando todos trabalham. alguns não querem representar e se matam.
***
insisto em encontrar no amor romântico, nessa vontade adolescente louca copiosa kitsch clichê ai que delícia! a causa dum mal terrível, o fim da razão, uma farsa. porém: como aprenderemos? e se a loucura aparente for a prevenção contra a loucura real? o impulso de se envolver com essa incógnita que é o outro, e querer se doar assim nos prevenindo da solidão iminente... qual o limite entre farsa e criação? quando criamos aquilo que nos encanta, nos ensina, nos nutre, e vivemos de forma real o inventado, onde termina o limite do real é... ah, eu andei muitas ruas com o coração na mãos, vivendo aquilo que criei mas também o outro proporcionou. vejo aos poucos que o amor se pode criar, e moldar, e nutrir. e inventando o amor assim escapo de inventá-lo acreditando na sua existência magna, como se fosse um raio que caindo na minha cabeça, me derruba. separado de mim.
para a seca, que a resposta sejam as torrentes.
Tarefa
as unhas roem o corpo
o futuro presente chegou
em torrente, apaga
as direções nos mapas
os retratos estáticos
não nos contam nada...
demasiados onipresentes, ser deus nos cansa
as unhas roem o corpo
e as escamas, pétalas sujas, deixam rastros humanos
na terra rasgada.
domingo, 10 de janeiro de 2016
Poemas Latinos
oí la tierra temblar
era medianoche - me tomaban por la mano
unas ganas - e tirarme al mar
***
despertando seco
sonho um peixe
da ilha de chiloé
***
no estaba allá la virtud
y la tomó el hombre;
ni tampoco la tierra es de la justicia madre, origen
construyamos todo
seamos piedra y albañil
caerán los castillos donde viven sueños de plata
y las bolsas de valores serán fantasias
cubiertas de muzgo y flor
***
bastardos de bandeiras
paulistas, armada espanhola
sentimos dor pela manhã. um grito fantasmático
tosse.
ainda é vermelha a costa
onde coroas disfarçadas
impõe tratados
aos neocolonizados.
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