sábado, 23 de agosto de 2014

Areia


entre papéis,
perda;
adentram cartas
pela soleira

você pergunta por nomes:
nomes se perdem
na areia

ficam as cartas
tantas !
contendo de amares
violência

naufragados, fundo
na ausência

do século passado
a semana
inteira.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Rotary


 a praça rotary
 é um quadrado fixo
 no meio da santa

 ela encara
 descrente
 a falta do cheiro manhoso
 do café, matutino
 sinal
 - a cafeteria point
 está perdida
 desde março desde ano de nosso senhor
 meu deus
 comércio e serviços
 permanecem atônitos
 os mendigos se questionam
 eu: por quê?

 mande lembranças
 estamos à sua procura
 como se as frases perdessem seu ponto final
 arrítmicas
 não haverão manhãs sem point; cafeteria

 a praça rotary
 é um quadrado atônito
 na mirada
 fixa.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Quis voar, barco


 conta os dias,
 com tua calculadora
 de astros!
 fica a sombra
 no rastro

 lastro meu! viga
 prende-me em superfície
 quis voar, barco
 sem perceber...

 flutuando no céu,
 é do mar também,
 a água.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Cratera


é dito que todos
dentro de ti
tem lunar
uma cratera
feita de escuros
nós e elos
depositamos ali
tal qual aterro
teimas, mitos
ventanias - agreste 

ah, mas por fora,
fora - tantos risos!
vamos ao cinema
domingo

sobrevoamos a cratera
e rimos... 




sábado, 26 de julho de 2014

Poema (ditado pelo espírito...) - III e IV


 more-me miríade !
 ria de mim.

 dê-me medo
 ao meio dia.

 mantenha-se
 imiscuída
 nos restos, cinzas.

 és mural, quimera !
 morre-me cedo
 matutina...

 cala-me flor,
 gotejando
 fina.

 ***

em silêncios
espavoridos
dorme
oblivion

num livro
sem dedicatória
fico
oblivion

e passa, passa
cada dia
conforme
oblivion

"até um dia, à deus"
acordo
e digo;
oblivion.

you, inhabitant
delicate form unknown
lead me straight, regardless
into the depths of oblivion.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Intransponível


se te tomar pela mão
aceita :
varrer com dedos
teu contorno;
prova de mim
o todo -
mesmo que fique
lívido

tomai e comei - este é o meu corpo
fronteira intransponível

tomai e bebei - este é o meu sangue
sem remissão ou benção

apenas vivo

domingo, 20 de julho de 2014

Se meu corpo


 se meu corpo não me pertence, como posso com as mãos tentar tomar um outro - intransigente, raivoso? egoísta - como os homens em princípio e eternidade. antes de levantar a voz já me perdoe: faremos com as memórias o que faríamos da argila - moldar, transformar, suprimir o sólido e criar o oco.
 então guardaremos nelas aquilo que nos parecer melhor.
 preciso aprender com o que toquei. aos amantes as alegorias são fantasias práticas, não pedras de erguer casas. dada a hora, fez-se o tempo de aprender a regra e abandonar a sede das mãos. diante dos grandes prédios ser brutalista e concreto, direto ao coração como a ponta da bala. pois nada é meu. tudo que é possível é a ponte direta, a palavra nua. o resto é máscara para a solidão. 

 mas não é a solidão completa também nua e próxima? há tanto é buraco negro. escrita crassa. comer da solidão é mais humano. mata a sede, afoita. não nega a falta de posse, mas imerge no desdobramento de ser, em ondas pequenas quebradas, múltiplas. então jamais tentarei tomar de assalto qualquer outro universo - lançarei a solidão ao ar e, onda de rádio, ecoará no espaço infinito.

 ***

 eis que, entre solidão e posse, existem as coisas do ar e dos olhos. o dia que nasceu virgem e prossegue dourado - meu? posso chamar de meu o que me contêm? casas, cidade, rua, bar - meu? aniversário, quarto, pensamento - meus? não seria eu das coisas, tão oposto? 
 pertence à mim o corpo ou ao corpo pertenço eu? 
 na dúvida eu abri as portas e fugi pelo dia, tão de ninguém.