segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Poema de Segunda
desanuviou
aluvião
chuva passageira
temporão
abri segunda-feira
de céu azul-canção
desanuviou
canto chão
lamento de ribeira
temporão
abri segunda-feira
imersa em claridão
descongestionada
imensidão
num grito de laranjeira
um passo pr'além da beira
da alegre perdição...
sábado, 26 de outubro de 2013
Melhor era tudo se acabar
meu coração é um vaso meio quebrado
passo em falso
corrigido
todo mundo tem um trinco
ou um lado
entortado
um zumbido de inseto
insilenciável
de zumbido em zumbido
são feitas canções
meu coração não foi feito pra guardar
foi feito pra viver
domingo, 20 de outubro de 2013
Citando o poetinha
quando eu me pergunto se você existe mesmo,
desisto:
você nem sabe que existe.
estamos um pouco sozinhos, como Vênus
quando amanhece
no entanto, nada entristece: quando volta a madrugada
o céu se enche de estrelas
afinal, amor
é impossível ser feliz sozinho.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Poema de metrô
te pensei na confluência das horas
as rimas bonitas
esfriaram
meu coração cansado
boceja preguiçoso.
pedrinhas brancas na água cristalina
- foi assim a verdade que me apresentou
a confluência das horas
te penso ainda
no desaguar das noites
não mais com os olhos de cão
mas de um lobo à espreita
à espera
reluzentes olhos noturnos.
te pensei assim
e não de outra forma.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Esparsa Guarida
âmbar libélula
porque todos os moços são azuis-manhã
e seus olhos, aquarela?
atenta sentinela
não somem estrelas magras, manhã
com a fuga da donzela?
esparsa guarida
porque os ventos trazem folhas, manhãs
duma ilha distante, proibida?
no meu leito de moço estrela folhas
e manhã, fluida...
na noite escondida!
Versinhos: de veranico e de verão
estou meio bossa-jazz
_ de quando as coisas com gosto de limão.
e um pardal cantando no meio do mato
_ a gente sorrindo, sentado (no meio do mato).
***
estou meio trip-hop
cantando silêncio
sampleando paisagens
que vi
digerindo a fruta amarga
mastigando a seca
e plantando a doce
tirando retratos escondido
no sonho
enquanto ele dorme
plantando um pé de pardal
ou ouvindo cantar um limão...
domingo, 13 de outubro de 2013
Oração
que a fome do corpo
não mate o senso do coração
que a dor do corpo
não mate a luz da razão
que o prazer do corpo
não mate a força, mas seja a força
que não cegue, não desvie
ilumine, incendeie
que sejamos ternos
delicados sem fraqueza
amém
sábado, 12 de outubro de 2013
Primavera
eis a violência do vento seco
cortando um campo à beira do Sol
onde não há pais nem mães
nem sonhares, ou incômodos - nem você e o relógio
é um lugar de se estar
mergulhado em mato e céu
sem precisar explicar a vida,
vive
sem quebrar em mil
fragmenta
sem gritar alto de noite
rebenta
nunca se está completamente só:
senão só, completa a mente.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Ladybug
na esquina da livraria
confesso como as mãos abertas
aquela bonita
aquela lotada
aquela do café
da espera infinita
na esquina da livraria
irremediável como vaso trincado
aquela do abraço
aquela do sorriso
aquela sempre
calçada de sonhos íntimos
aquela do perfume
aquela da avenida
aquela onde deixa levar embora
o irreal - e ficamos com a vida
uma joaninha dúvida
subir garganta adentro
pelos meandros secos
da declamada poesia.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Mas é verdade
dormem em mim
seco frasco
palavras insones
formam frases
uma delas ecoa
busca sair
mas no esforço de impedir, não durmo
... é muito moça !
(mas é verdade)
sábado, 5 de outubro de 2013
Você vai esquecer
da cápsula do tempo, 2009
você nunca vai saber o que é real. nunca. as pessoas ao seu redor, nunca vai saber se elas são sonhos, se são verdadeiras. você nunca vai saber o que seus amigos do jardim de infância pensavam. todos os momentos do passado, você nunca vai saber se realmente aconteceram. eles passaram rápido demais, como um raio. você nunca vai saber se um raio é real. e se souber, provavelmente vai morrer. nunca ninguém que morreu com um raio em sua cabeça pode contar se foi real.
você nunca vai saber como é nadar no fundo do mar. os peixes do abismo nunca vem à superfície nos contar. nunca vai saber se existem sereias. fadas. anjos.
aquilo que você ouve a noite, você nunca poderá dizer o que era. se era seu amor correndo, uma criança perdida, uma pessoa que se encontrou.
quando acabar, você não poderá dizer se foi real. talvez você simplesmente se esquecerá como sempre se esquece dos seus sonhos...
terça-feira, 1 de outubro de 2013
A sós
as palavras já não contém a sensação inexata
estamos a sós
eu e elas
observando o céu
contando estrelas
catando conchas
no imerso silêncio
da espera.
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