domingo, 28 de abril de 2013

Quinto poema em falso


 abrindo as cortinas, despertei

 pela janela aberta entram perguntas
 pássaros barulhentos

 que ao correr de dias, respondi

 então partiram
 em migração

 para outras rotas
 num outro coração


Quarto poema em falso


 se o dia lá fora morreu
 a culpa é minha

 o buraco de bala varreu o céu

 eu apertei o gatilho

 horizonte é onde vemos. não há horizonte
 quando os olhos veem além.

Primeiro poema em falso


 a manhã bem cedo
 se olha no espelho!

 roxas manchas
 graves, espalham-se

 passa sombra azul
 pra esconde-las

 a manhã bem cedo
 pega o ônibus comigo. tão bonita manhã

 dela ninguém lembra, sem recados
 sem mensagens. só

 ela queria ser de alguém
 a minha manhã. bem cedo.

 mal se olha no espelho!

Terceiro poema em falso


            sinto um cheiro no cômodo.
        enquanto desperto

            um cheiro que permeia a manhã e sonora.

 num abraço vago passado,
            como uma corrente
           (as sobras do sonho) de ar.

            sei sua razão.
 e ela está em silêncio
                      morta

 mas não quero dizê-la!
           dizer é despertar
           dessa morte isenta ...

 a mente repleta. soa. sonora.
  desisto de sonhos e quimeras

           (entretanto
            ninguém verá o que aconteceu).



Pra Você me Entender II


 ... mas e eu querendo me explicar; seria tão mais simples dizer que tenho uma alma de cachorro (se é que você entenderia) ... é uma confiança de tudo, apesar da falta de graça constante; uma vontade de viver pelos vazios; desfrutar de silêncios; e deitar ao sol todas as manhãs ...

Pra Você me Entender I


 esse meu não-querer, esse extraviar de olhares é como o pudor infantil de recusar o que te oferecem numa visita e se deixar conduzir, e se deixar satisfazer - o medo sincero de esquecer o caminho de casa por não valer mais a pena voltar - o rubro do rosto ao encontro do outro - a terrível lucidez de pensar que o morto no caixão poderia abrir os olhos e perguntar: afinal rapaz, já não são horas de despertar?


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Uma carta (outra)


 _ o espelho não me vê mais. quando passou um pássaro pra consolidar a perdição me dei conta de crescer a casca, belo invólucro de homem adormecido mas ah, se você me procurar estou olhando da janela do trem os prédios velhos, tão maiores que eu, em busca de amores fáceis, facas e punhais, dilacerações entre casos de polícia. eu pequeno entre altos prédios marrons de mãos dadas com minha mãe. entre as ruas do susto e do deslumbre, me perdi, olho para o alto vendo passar cicatrizes e sombras, coisas assim menos efêmeras (as sombras dos homens são a mesma sombra) - não posso olhar pra trás nem pra frente - apenas para onde meu infinito começa - acima.

cof cof 

   sem me esquecer de que isso é uma carta sem lição alguma prum destinatário ignorado/ante, mande beijos pra mamãe e diga às mães do brasil todas - um beijo. mando na carta também as cinzas de outra carta que contém um poema de amor sobre cinzas ... de nada vale o amor senão para queimá-lo em cartas (dizem os mestres na arte).

ps.: na segunda estrofe, substitua a palavra constância por um pedaço de carvão.