sexta-feira, 21 de abril de 2017
Um poema de amor, sem máscaras
molhamos o papel
envolvemos a garrafa.
freezer até a cerveja quente
estar fria como a mão rela na nuca acidental:
seca, quente, minha.
piquenique na chuva; ai que
saudade, heineken quente
a gente atento à garagem
metendo. risos, vozes na vizinha.
um eu-lírico frêmito - lirismos
só de surpresa. tocavam
campainhas próstatas sinos.
recito o dialeto particular em leitura mínima.
depois de tanto tempo ainda me assombra
a violência dessa ternura não explícita.
domingo, 16 de abril de 2017
Domingo, de novo
amando o silêncio
o peito não cala
passa o cortejo de palmeiras
calmas. deseja, altas
vigas do céu incompletas
vazio de paz, repleta
de planta bicho e coisa:
quem ama o silêncio
é que o peito não cala
pensando secretas
coisas terrenas
Oitavo poema em falso
ipiranga com são luis
rendez-vous, cruz inversa
pixos meio apagados e luz
amarela, eixo de carros
e o ar que preenche a voz
postes para se encostar
nesse esboço de praça
desse esboço homem
em plena confusão, abracei
você e saímos ´
pra onde não sei.
pra lembrança do que resta
e o ar que preenche a voz
ipiranga com são luis
rendez-vous e seus meios
pixos apagados e refeitos
toda narrativa só termina pra quem lê
desse esboço de história
desse esboço de homem
fica a intenção, abracei você
e saí
todavia
hoje é fixo. no sinal fechado
não cruzamos.
o copan estático; no vento
costumava tremular.
sábado, 15 de abril de 2017
Pessimista
as ideias que vão revolucionar o mundo
numa caixa
fechada a silvertape e camadas
de isopor e plástico bolha
vindas de chonqqing e xangai
nas prateleiras de um mercado
próximo à sua casa
terça-feira, 4 de abril de 2017
Cecília
cheirosa de alfazemas
vovó-mascava; doce
boldo fresco pra digestiva.
da horta da casa do quarto
às cinco (e meia)
sussurro de rádio, pilha.
netos sonolentos à soleira
para escutar coisas
de brasília.
madeirense desperta cantando acorda maria bonita.
morreu de câncer;
misterioso pâncreas. orava muito e não merecia.
era humana
79 anos, natural de Câmara de Lobos
viúva. viva.
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