domingo, 28 de abril de 2013

Pra Você me Entender I


 esse meu não-querer, esse extraviar de olhares é como o pudor infantil de recusar o que te oferecem numa visita e se deixar conduzir, e se deixar satisfazer - o medo sincero de esquecer o caminho de casa por não valer mais a pena voltar - o rubro do rosto ao encontro do outro - a terrível lucidez de pensar que o morto no caixão poderia abrir os olhos e perguntar: afinal rapaz, já não são horas de despertar?


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Uma carta (outra)


 _ o espelho não me vê mais. quando passou um pássaro pra consolidar a perdição me dei conta de crescer a casca, belo invólucro de homem adormecido mas ah, se você me procurar estou olhando da janela do trem os prédios velhos, tão maiores que eu, em busca de amores fáceis, facas e punhais, dilacerações entre casos de polícia. eu pequeno entre altos prédios marrons de mãos dadas com minha mãe. entre as ruas do susto e do deslumbre, me perdi, olho para o alto vendo passar cicatrizes e sombras, coisas assim menos efêmeras (as sombras dos homens são a mesma sombra) - não posso olhar pra trás nem pra frente - apenas para onde meu infinito começa - acima.

cof cof 

   sem me esquecer de que isso é uma carta sem lição alguma prum destinatário ignorado/ante, mande beijos pra mamãe e diga às mães do brasil todas - um beijo. mando na carta também as cinzas de outra carta que contém um poema de amor sobre cinzas ... de nada vale o amor senão para queimá-lo em cartas (dizem os mestres na arte).

ps.: na segunda estrofe, substitua a palavra constância por um pedaço de carvão.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um outro conto (V)



de uma "carta de ensinamentos e percepções para um pássaro"

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 aprendi uma coisa ontem, é um pouco assustadora ... o que é estar só e ser só? nasceu uma rosa ao pé da jardineira do quarto, e ela é só, não há outra sequer no quintal. eu, entretanto, estou só. não sei explicar bem, mas não é algo como uma condição, é algo como uma passagem por mim, uma conversa muito íntima. todas as emoções devem existir plenas e sinceras. muito mais que querer ser feliz com alguém é preciso querer ser triste e preguiçoso e pleno com alguém também. você precisa aprender a dividir seus voos mais baixos com a relva, passarinho ...

"

Um outro conto (IV)


 "

 estou num lugar anônimo onde a vida real se descortina, nada é impressão ou fugacidade, tudo é amplo e vivo e cada gesto se desenrola em outros gestos infinitos. estou aqui onde invento e queimo a palavra amor.
 é aqui também onde me engano. paredes espelhadas mostram a saída infinita que nunca se completa.
 um dia portanto foi com muito susto que constatei, enquanto dormia, que uma sombra me encarava fixa   ... dum corpo estendido no chão.

 "

Um outro conto (III)

"

 vende-se a história de um garoto que, aos quinze anos, se apaixonou por um balão.

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Um outro conto (II)


 "

  às vezes na bagunça das estantes, acordando cedo tomando o café com a samambaia me olhando frívola - só pra constar o amanhecer do Sol - penso se ele imagina de leve que eu tomo meu café diluindo minhas lembranças pois detesto café solúvel, destatuando das minhas pernas o cansaço das saídas e desalmando o mundo, roubando qualquer fleuma dos sorrisos espontâneos e discutindo amor como discutimos as coreias aos meio termos ... até acho graça. depois acho mais graça pois já troquei de pensamento ao flutuar sobre o que farei com um novo dia, estou achando o mundo tão frívolo ... se fosse escrever um livro, me inspiraria num pequeno príncipe travesso, matando a rosa de indiferença e a raposa de desgosto ... ninguém define o que é amar hoje em dia. é preciso ser gauche, diria o anjo. procurar uma boa cova pra tudo que morre dentro da gente e, depois, lamber a margarina dos dedos que escorre do pão.
 depois penso em nomeá-lo e, tendo minha bacia batizado-o ao revés levando embora a palavra destino, fico só com essa corrente de tempo sem nome, acasos ordenados. será que o acaso me imagina ou prefere me evitar? me eleve ...

"

Um outro conto


 "
   não escreva poesias nas tuas cartas (milena). me aborrecem os versos.

   crie borboletas, seque suas asas, mande-me-as impressas

   depois, morra.

"