segunda-feira, 22 de abril de 2013

Conto / Paralelo ao Conto






um dia ele sai de casa - vai à pé, desistiu do ônibus, pensou nas pernas que preguiçam, as pernas que precisam de tônus. chega suado no barzinho (ou lanchonete) e senta calmo como se não fosse um sonho, poupou muitos sorrisos no caminho pensa muito no que vai pedir - por motivos estranhos, tem sede. costuma pedir coisas doces, destilado ou alguma bebida de viado, mas se a paixão pede caipiroska o amor pede cerveja que é amarga. sem muitos porquês - já está tarde - vai ignorar todas as ligações as mensagens, e vai sobrar do mundo. sobrar como nunca antes. uma estrela vai piscar pra ele o tempo todo. ela virou a casaca - agora conta o segredo pra ele. num sussurro esboçou uma frase _ eu gosto de estrelas ... sussurra um segredo escondido nas pálpebras que ele guardou de tantos. ela ri, manhosa. agora é sua vez. depois de tantos corações na mão aí está feito um beijo. 
e senão todos, quem vai pegar pela mão um menino descuidado que dorme no chão? seria demais permitir que apenas dois braços formassem o arco que o carregasse _ é preciso mais, são preciso muitos ... porém dessa vez está aí, falou de estrela e danou-se, o amor que, finalmente, se repete, e agora é preciso de um somente tão somente. ele termina qualquer porção de coisa que lhe veio à mesa. no balcão, um homem atende. ele olha o homem. muito de repente se lembrou de alguém com quem dormiu e ficou mastigando o vazio duma memória branca, vacilos vacilos ... nada era potente diante de amar com uma cerveja no copo e um rosto novo. nunca havia amado assim, homem, e foi se tornando turvo. 
pagou a conta. foi se misturar ao vento noturno sem muita opção, e se lembrou duma poesia cansada que alguém escreveu, recitou pro menino dormir e entender dormir e entender, o dia passa calmo. estou certo de amar. mas e do mar? mas se já era noite então e tão longe do mar ... se tudo isso não fosse um sonho apenas e estivesse perto do mar ... quem derramou uma poesia no meu coração?
depois ele parte e o perderemos de vista - como um barco que se entrega  ... ao horizonte

***

nos mesmos instantes, num outro porto

um dia ele abre os olhos e se vê imerso no espelho, toca a própria imagem e com surpresa, se toca. um dia ele levanta com olhos aguados de vida e apenas segue. caminhará seguindo uma febre que nunca cessa, uma inocência violenta, um medo tácito. e como nunca e como no passado o sorriso brota dos canteiros e pousa no seu rosto, o que lhe move é o dia tão somente, a graça de viver. vai escrever prosa à mão. e poesia nas vidraças da janela. um dia ele abre os olhos e passa a ser o que é. e o amor não precisará de respostas, um gato dorme no parapeito das sacadas que repousam sobre esquinas e um balão dominical solta rojões, todos os crimes serão permitidos, o que lhe move é o dia tão somente. gestos nunca em falso. podemos dizer que então haverá alguém que, com uma estrela astuta na mão, vai arrombar portas incrédulas, laranjas caseiras na mesa, pratos postos, um almoço ... nas paredes - crônicas;. no chão - contos.



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