quinta-feira, 6 de junho de 2013

(o meio de um conto sem começo nem fim)


acordar é estar orvalhado, ser acordado é lembrar de cicatrizes, orvalhar é estar fora de si _ sereno.

andei ficando bravo. é pra ficar bravo? não sei, conta pra mim? tenho ficado bravíssimo como os aplausos duma peça de um ato. meus gestos crescem pra além de mim e me transpassam, horrorizados de serem meus: ele num crime tirou meus olhos da paisagem mas não tirou a paisagem dos meus olhos - o que serão as nuvens que estacionam na íris-esquerda, distantes e róseo-purpuras? são sonhos por viver ou só depois de esquinas sujas e corpos corpos usados? você: um corpo. mas, e eu? que sou eu? essa pergunta universal move meu gesto gigante me varando o ser, sem-blanche (apenas noir), preocupadíssimo. é com pudor que recordo do único momento em que nosso olhar se cruzava sem medos, animais. sinto um arrepio de nojo e uma tristeza corrente pela inocência onde me afogo e embebedo - entretanto agora ela está morta, cega. acabou. fiquei com a paisagem apenas, um objetivo ou um assunto, mas a inocência: essa despertou. o que é um menino sem inocência senão uma sentença de morte que não se cumpre?

 parece que, sem querer, amanheceu. 

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