sábado, 20 de dezembro de 2014
Dois Versos de Boa Noite
longe do sol
que a contorna
a sombra não é forma
anoitece e descontornado
me conto histórias
para dormir
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Poema (ditado pelo espírito...) - V
- qual seu nome?
meu nome?
não é meu
nem eu o tenho
ele é quem me tem
eu
não é primeira pessoa
és antes ou depois
éres repleto
sem forma
um cheio
nu vazio
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Desejo II
senta em minha casa
toma minha mão pra si
guia-a dentro
das tuas vísceras
febris
arranca com minha mão
a espada fincada
em ti
o nada
esquece meu nome
minha fala
tudo que escrevi
descobre em mim o nada
ali estarei
Clima, Chuva, Uma noite
o que há
é o que não é
a música, este vento, esta noite
essa delícia - o gelado no rosto
e a rapidez com que se esvaem essas noites
de movimento, tranquilas
estas coisas todas, hão;
nós, não.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Insistência
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Danço
o pão
conforme
a fome
o chão
conforma
o passo
eu danço
conforme
a lança
trespassa
eu danço no espaço
da fome
me lanço no espaço
do rasgo
sábado, 29 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Deseubrulhado
eubrulhado
em papel
laçado
me fitilho, enrodilhado!
presente - aqui? a quem?
ao largo
vou me dar-me
algo
dar-me-ei-me a mim mesmo!
deseubrulhado
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Perhaps
perhaps
unveiled one day
will be there - light
and lust
thoroughly
through guts
and flesh
one might guess
from a body dry
sábado, 25 de outubro de 2014
Por detrás
poema de palavra
faminta
clama, pede, grita
que quem leia lhe preencha
de vida, de algo, de nada
revele na calada
o que há detrás
da vírgula
Rasgo
todo evento
deixa
um indício
corte, facada
eco do que disse
o vício
mesmo fundo
não importa
se seremos sobras
tudo que há, é
um silêncio surdo
num fim de festa,
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Perguntar
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Para quebrar o silêncio
me dói ver a tristeza
te tocar nos ossos
quando do ressoar
dos sinos da igreja
marés do acaso que tangem e partem essas.
de toda forma: para quebrar o silêncio
nada importa! toma
meu ávido desejo de alegria e
toma!
saboreia a maré do acaso
vai ser gauche - leia poesia
coma do medo teu e conversa
com teus mortos. sente-os a mesa.
para quebrar o silência
para eles leia
um poema.
domingo, 21 de setembro de 2014
prólogo
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Marquise / Bobagem I
morta de medo
cai a marquise
de chuva
cai de assustada
na beirada
do pensamento
pobre marquise
enferrujada
pobre de mim
passeio
me veio cair na cabeça
esse anseio - loucura!
cair de partir-se no chão
- mil pedaços!
humano peito.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Um outro conto (VI)
de "uma carta de ensinamentos e percepções para um pássaro"
domingo, 24 de agosto de 2014
Teu
teu
cópia da cópia
de mil cópias
de xerox velha
um borrão
na memória
cópia da cópia
teu
ontem, hoje
e um outro dia
uma cópia da cópia
indistinta
sábado, 23 de agosto de 2014
Areia
entre papéis,
perda;
adentram cartas
pela soleira
nomes se perdem
ficam as cartas
tantas !
contendo de amares
violência
na ausência
do século passado
a semana
inteira.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Rotary
a praça rotary
é um quadrado fixo
no meio da santa
a praça rotary
é um quadrado atônito
na mirada
fixa.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Quis voar, barco
conta os dias,
com tua calculadora
de astros!
fica a sombra
no rastro
lastro meu! viga
prende-me em superfície
quis voar, barco
sem perceber...
flutuando no céu,
é do mar também,
a água.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Cratera
dentro de ti
tem lunar
uma cratera
feita de escuros
nós e elos
tal qual aterro
teimas, mitos
ventanias - agreste
sábado, 26 de julho de 2014
Poema (ditado pelo espírito...) - III e IV
more-me miríade !
ria de mim.
dê-me medo
ao meio dia.
mantenha-se
imiscuída
nos restos, cinzas.
és mural, quimera !
morre-me cedo
matutina...
cala-me flor,
gotejando
fina.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Intransponível
aceita :
varrer com dedos
teu contorno;
o todo -
mesmo que fique
lívido
domingo, 20 de julho de 2014
Se meu corpo
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Explique-me
terça-feira, 8 de julho de 2014
Poema (ditado pelo espírito...) - III
inseto
teu som me desperta
eu, atento ao vôo
não - ao sono -
me entrego
inseto
roídos muros
faz morada
de mim
dentro
entristece-me, inseto
tê-lo dentro
e não perto.
domingo, 6 de julho de 2014
Íntima
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Monólogo (trecho III)
[ele] : joana, em verdade
fecho meus olhos
na tua ausência.
sou apenas reminiscência.
terei outras
mas serei teu
como sempre e antes
entre velhas e secas amantes.
você me perdoará
até o novo amanhecer
entre outros mares
e marcas de semblantes.
Descobrimentos
olha-te
no espelho
longamente
fale-te
grita-te
espanta-te
tenta-te
lamber
o joelho
circunavega-te
eterno
quebra o encanto
nada é pecado
ao sul do queixo.
terça-feira, 1 de julho de 2014
domingo, 29 de junho de 2014
Eis-me
há sono, mas não durmo
a hora é errada. pena.
nas costas, quem há muito não vejo pesa
dos olhos - mas despertos.
quem me viu sair não sabia
manhã aberta - portas janelas
que ao voltar fechada e vazia
repousava a casa minha
eis-me aqui, agora
prolongando o dia abatido
ao meu eu não retorno
fora de mim
fico
Silencicídio
volver
no buraco negro
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Mattel
polímeros olhos
fitam distantes
o que não há
nem poderia
fios elétricos
na barriga
andam, falam, cantam, matam
até cagam
bonecos modernos
alguns estão,
acredite você:
vivos.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Desejo
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Elevado, elevado
elevado:
a chuvarada
lavou
meu passo
eu
te rebatizaria
- te voltar domingo
- te deixar pra sempre
e guardar comigo.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
domingo, 8 de junho de 2014
Memo
os prédios tortos de Santos estão dizendo coisas
crentes que estão em piza
estamos nós, gaivotas e rochedos
que os banhistas nos lembram:
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Poemas Outonais III
por favor
- parta
no ar da tarde
a falta
peço,
- reparta
dê de comer
à ausência
até que fique farta.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
terça-feira, 3 de junho de 2014
terça-feira, 27 de maio de 2014
domingo, 25 de maio de 2014
Rara
lembra você
da chuva rara
que se acabou
em correria?
não foi um tempo:
só uma tarde
dobrada seca
entre páginas
vazias
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Reencontro
estes átomos
meus e teus
que agora
percebes
- com mãos e ventres
são poeiras
antigas demais
inevitáveis
seremos sempre
um
- reencontro
domingo, 11 de maio de 2014
Em te, diante
em te -
diante -
ver
passar
passei
o :
dia
sem
falar
dias
ante
em
te
adiar
passeio:
cem dias
falar.
domingo, 4 de maio de 2014
Faz parecer
eis o teu corpo:
prédio trincado
templo santo
condenado
embrulha-o fino
em papel ou seda
faz parecer
não-perecível
um corpo tecido
em fio delicado...
-
laranja fim
dominical
dói feito
fruta no pé
morde molhado
arrepio
na pele seca
do sol
se pondo semente
no chão
roída na boca
do céu
cor horizontal
dor em mim:
assim sempre domingo
todo fim.
domingo, 27 de abril de 2014
Consequência
sentido raso
clara praia:
criança afoita
na areia
cava um buraco
negro
que no peito toca
a artéria
passarão marés
migratórias
constelações
aves vermelhas
fica o buraco fundo
cavado
na areia.
terça-feira, 22 de abril de 2014
domingo, 20 de abril de 2014
Sobre desaguar
imagina o susto
do rio
_embocar
o amazonas
eu rio todo
ao tremer
a boca
navegante - beija
a nascente
afoita
permita agora
que este leito
_ profundo e moço
te envolva.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Poeira fina
amor disse
lhe mordesse
al dente
amordaça
a boca
amor talha
amor tece
a alma
em longos silvos
fios de prata
Sob a tarde
a tarde é uma velha
bordando crianças
num pano de prato
tecendo cabelos
num campo de prata
o fio da meada
se perde travesso
na densa risada
a velha se senta
na escada.
domingo, 30 de março de 2014
sexta-feira, 28 de março de 2014
À beira do sono
suspenso
à beira do sono
me lembro
não ouso
seu número:
receio
escrever o poema
é enfim
o único meio
de dizer aquilo
à beira do sono
suspenso.
terça-feira, 25 de março de 2014
Granizo
algum dia
eu granizo
atemporal
ainda caio
no quintal
do teu silêncio
vai ser tu
olhando
da janela
eu à espreita:
no vento.
domingo, 23 de março de 2014
Poemas Outonais
- suspiro
espera
aguardada fera.
cantiga
a canção antiga.
sábado, 22 de março de 2014
BWV 883
pelo silêncio
fiquei surdo:
não por barulhos
doce estribilho
que já não escuto
ave secreta:
sopra teu canto
entre sussurros;
pelo silêncio
não por barulhos.
quinta-feira, 20 de março de 2014
Um poema de morrer
tem gente pedindo o sangue do justo
no poste
em nome de deus
deus anda meio sumido, silencioso:
quê dirá?
se não há nada a dizer
amanhecemos no espanto;
tem sangue no asfalto
os culpados sorriem:
papéis na bolsa
e salto alto.
segunda-feira, 17 de março de 2014
Ferida
eu afago o tempo
como a um gato
fizemos as pazes:
já não me arranha
minha revolução
não será televisionada
rasgo o roteiro adaptado
da vida pré-produzida
quero comer a realidade
à mesa não importa como
talheres de ossos quebrados
louça de pedra fundida
buscando no seio rocha
nascente esquecida
brotando sangue ou água
fluindo n'aberta ferida
quinta-feira, 13 de março de 2014
Ausência 2
nunca mais
é um de repente
incessante
boia frio
surpreendente
o instante
antes fossem
ditas secas
as palavras
"fica: espera
a hora deserta
e aguarda"
mas ditas inversas
mataram meu conto
a punhaladas...
Ausência
disse: some
tu ausente
é dor minguante
qual o quê -
foi um erro
latejante
a lua dissipada
não é nova
nem amante
fico eu arrebatado -
nunca mais
é muito grande
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
how unbearable the light
coming from down under
your view
...
growing nothing but distance
never coming back; from the night
crossing an ocean unseen
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Ensine-o
ensine ele a olhar o céu
não sair de domingo
rir das piadas bobas
procurar teus olhos
ensine-o a ser paciente
nomes de estrelas
canções mais bonitas
caminhadas noturnas
ensine os verbos necessários
desconstrua suas roupas
desarme-o
admirar nuvens
ensine ele os versos livres,
e a ser diferente. ultimamente
o mundo tem sido tão constante
e tão igual. a gente precisa de gente
que escreva poesia.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Um poema sincero
queria escrever uma poesia
de silêncio
hoje, muito especialmente
dizer não vale nada
cantar não vale a pena
queria escrever silêncio
e basta
daí um respiro fundo -
a calmaria.
sábado, 18 de janeiro de 2014
Poema (ditado pelo espírito...) - II
eu não sei fazer poemas
você atreve
me esmiuça feito um bicho
de cinco pernas
e corpo leve
se eu morrer, não reclame
se eu correr, não se mate
se eu voar, não desate
se eu morder, não entregue
você que insiste, menino
esmiuçando a vida breve...
Poemas (ditado pelo espírito...)
enquanto você estiver em silêncios
nada importa
podem acumular as poeiras
milenares
ou virem canto dum pássaro
madrugueiro
ninguém acordará
nem eu
no silêncio você constrói uma casa de pedras lisas
gasosas
era manhã. na hora sem sombras
só a tua
sol a sol
sábado, 4 de janeiro de 2014
Ribeira
a solidão me corta como aquele rio
da planície
três partes iguais da mesma terra
que um povo costura
com pontes suspensas
navegar é mais longe
aqui ninguém atraca
a solidão é algo assim, sinuoso e comprido
onde só se sabe partir.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Melhor era tudo...
cada gota da chuva é um evento
som, estilhaço,
arrepio
numerosas como poemas de amor
repetidas como poemas de amor
frias como poema de amor
todo mundo tem um laço no dedo
de lembrança
dia desse dá tropeço forte
na calçada
caindo menino
se erguendo mosqueteiro
sem notar a mudança
louca óbvia lívida
mosqueteiro não é só adulto
mosqueteiro escreve poesia
menos frias que gotas de chuva
menos numerosas que gotas de chuva
porém com arrepio
seu coração não foi feito pra ficar no céu
foi feito pra cair.