domingo, 24 de novembro de 2013
Desmáscara
sabe, vou contar:
essa coisa de poesia e tal
é uma grande bobagem
a gente mente
tudo que sente
pra alguém com sonhos
acreditar
é uma pena: às vezes
eu também me acredito
acabo por dar derradeiro
o passo em falso
no engano vazio...
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Novembro
estão aí
outras
as chuvas
de novembro
como me matam essas chuvas!
fazem nascer alagamentos;
deixam presas no engarrafamento
as poesias por nascer...
domingo, 17 de novembro de 2013
19
refazer anos:
os dezesseis
nus. esquecer
a obrigação
da coerência:
amar tudo, e
odiar o que
for. esquecer
o que aprendi;
amar profundo
a desobediência
à mim.
***
(entretanto, fiz um
novo ano, coberto.
seguindo à risca
regras de ser feliz
e coerência interna.
amo em silêncio:
odeio sem saber...
aprendo, aprendo, apreenso
me obedeço;
arrependido
de não me arrepender...).
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Fin
I
te envio uma carta
sem remetente
talvez meu nome
não te faça perceber
que fui eu que a enviei
por não falarmos bem
com palavras comuns
é uma carta de desenhos.
desenhei um sol, por que gosto
e uma estrela. igual àquela.
desenhei um retrato teu
à moda de Saint-Exupéry
então, perdoe-me
foi o que encontrei de mais fiel. você é a rosa.
há uma pedinte no canto direito.
dê algo pra ela comer,
cuide dos bichos dela.
no canto esquerdo
há um angorá pardo.
não há o que dizer dele.
além disso, há pedaços
dum papel rasgado
foi um bilhete
de cinema. um dia. apagou-se
tudo um dia se apaga.
perdão, achei necessário
falar disso. há mortes necessárias.
no mais, o de sempre,
desenhei um parênteses. eis minha vida
olhe atento, cuidado
pela fresta: um vislumbre
do mato fresco. brejeirando
rindo alto. ou cantando
melancólico. bah - você nem sabe
do trabalho da terra! viagens
pequenas viagens,
e o sono que dá, o sono...
não pense em responder!
suas respostas estão aqui
prontas. hipotético delivery
me entregam diariamente
junto com a manhã
o trem e a preguiça:
nenhuma
abri - nenhuma
prefiro elas ali, em silêncio.
te envio uma carta
sem remetente
talvez meu nome
não te faça perceber
que fui eu que a enviei
por não falarmos bem
com palavras comuns
é uma carta de desenhos.
desenhei um sol, por que gosto
e uma estrela. igual àquela.
desenhei um retrato teu
à moda de Saint-Exupéry
então, perdoe-me
foi o que encontrei de mais fiel. você é a rosa.
há uma pedinte no canto direito.
dê algo pra ela comer,
cuide dos bichos dela.
no canto esquerdo
há um angorá pardo.
não há o que dizer dele.
além disso, há pedaços
dum papel rasgado
foi um bilhete
de cinema. um dia. apagou-se
tudo um dia se apaga.
perdão, achei necessário
falar disso. há mortes necessárias.
no mais, o de sempre,
desenhei um parênteses. eis minha vida
olhe atento, cuidado
pela fresta: um vislumbre
do mato fresco. brejeirando
rindo alto. ou cantando
melancólico. bah - você nem sabe
do trabalho da terra! viagens
pequenas viagens,
e o sono que dá, o sono...
não pense em responder!
suas respostas estão aqui
prontas. hipotético delivery
me entregam diariamente
junto com a manhã
o trem e a preguiça:
nenhuma
abri - nenhuma
prefiro elas ali, em silêncio.
31/10/1979
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Poema de Segunda
desanuviou
aluvião
chuva passageira
temporão
abri segunda-feira
de céu azul-canção
desanuviou
canto chão
lamento de ribeira
temporão
abri segunda-feira
imersa em claridão
descongestionada
imensidão
num grito de laranjeira
um passo pr'além da beira
da alegre perdição...
sábado, 26 de outubro de 2013
Melhor era tudo se acabar
meu coração é um vaso meio quebrado
passo em falso
corrigido
todo mundo tem um trinco
ou um lado
entortado
um zumbido de inseto
insilenciável
de zumbido em zumbido
são feitas canções
meu coração não foi feito pra guardar
foi feito pra viver
domingo, 20 de outubro de 2013
Citando o poetinha
quando eu me pergunto se você existe mesmo,
desisto:
você nem sabe que existe.
estamos um pouco sozinhos, como Vênus
quando amanhece
no entanto, nada entristece: quando volta a madrugada
o céu se enche de estrelas
afinal, amor
é impossível ser feliz sozinho.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Poema de metrô
te pensei na confluência das horas
as rimas bonitas
esfriaram
meu coração cansado
boceja preguiçoso.
pedrinhas brancas na água cristalina
- foi assim a verdade que me apresentou
a confluência das horas
te penso ainda
no desaguar das noites
não mais com os olhos de cão
mas de um lobo à espreita
à espera
reluzentes olhos noturnos.
te pensei assim
e não de outra forma.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Esparsa Guarida
âmbar libélula
porque todos os moços são azuis-manhã
e seus olhos, aquarela?
atenta sentinela
não somem estrelas magras, manhã
com a fuga da donzela?
esparsa guarida
porque os ventos trazem folhas, manhãs
duma ilha distante, proibida?
no meu leito de moço estrela folhas
e manhã, fluida...
na noite escondida!
Versinhos: de veranico e de verão
estou meio bossa-jazz
_ de quando as coisas com gosto de limão.
e um pardal cantando no meio do mato
_ a gente sorrindo, sentado (no meio do mato).
***
estou meio trip-hop
cantando silêncio
sampleando paisagens
que vi
digerindo a fruta amarga
mastigando a seca
e plantando a doce
tirando retratos escondido
no sonho
enquanto ele dorme
plantando um pé de pardal
ou ouvindo cantar um limão...
domingo, 13 de outubro de 2013
Oração
que a fome do corpo
não mate o senso do coração
que a dor do corpo
não mate a luz da razão
que o prazer do corpo
não mate a força, mas seja a força
que não cegue, não desvie
ilumine, incendeie
que sejamos ternos
delicados sem fraqueza
amém
sábado, 12 de outubro de 2013
Primavera
eis a violência do vento seco
cortando um campo à beira do Sol
onde não há pais nem mães
nem sonhares, ou incômodos - nem você e o relógio
é um lugar de se estar
mergulhado em mato e céu
sem precisar explicar a vida,
vive
sem quebrar em mil
fragmenta
sem gritar alto de noite
rebenta
nunca se está completamente só:
senão só, completa a mente.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Ladybug
na esquina da livraria
confesso como as mãos abertas
aquela bonita
aquela lotada
aquela do café
da espera infinita
na esquina da livraria
irremediável como vaso trincado
aquela do abraço
aquela do sorriso
aquela sempre
calçada de sonhos íntimos
aquela do perfume
aquela da avenida
aquela onde deixa levar embora
o irreal - e ficamos com a vida
uma joaninha dúvida
subir garganta adentro
pelos meandros secos
da declamada poesia.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Mas é verdade
dormem em mim
seco frasco
palavras insones
formam frases
uma delas ecoa
busca sair
mas no esforço de impedir, não durmo
... é muito moça !
(mas é verdade)
sábado, 5 de outubro de 2013
Você vai esquecer
da cápsula do tempo, 2009
você nunca vai saber o que é real. nunca. as pessoas ao seu redor, nunca vai saber se elas são sonhos, se são verdadeiras. você nunca vai saber o que seus amigos do jardim de infância pensavam. todos os momentos do passado, você nunca vai saber se realmente aconteceram. eles passaram rápido demais, como um raio. você nunca vai saber se um raio é real. e se souber, provavelmente vai morrer. nunca ninguém que morreu com um raio em sua cabeça pode contar se foi real.
você nunca vai saber como é nadar no fundo do mar. os peixes do abismo nunca vem à superfície nos contar. nunca vai saber se existem sereias. fadas. anjos.
aquilo que você ouve a noite, você nunca poderá dizer o que era. se era seu amor correndo, uma criança perdida, uma pessoa que se encontrou.
quando acabar, você não poderá dizer se foi real. talvez você simplesmente se esquecerá como sempre se esquece dos seus sonhos...
terça-feira, 1 de outubro de 2013
A sós
as palavras já não contém a sensação inexata
estamos a sós
eu e elas
observando o céu
contando estrelas
catando conchas
no imerso silêncio
da espera.
sábado, 28 de setembro de 2013
Naufrágio
onde está?
me encontre num momento qualquer
numa rua seja
qual for: repousando silenciosamente
no canto de um quarto, imaginando.
encontre-me
saindo ao mundo de peito aberto.
no navio naufragado, está tudo bem;
não leva mais o peso de tripulantes há muito mortos
repousando no fundo do mar, muito mais tranquilo que sua superfície revolta.
me encontre no barco naufragado.
está tudo bem, mas não da forma como você imagina.
está tudo bem como num barco naufrago
peixe solitário
silêncio navegar
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Pequeno Inverno
(de quando era verão)
envolto em dias de calor, pequeno inverno
não traga notícia alguma
seja gentil
despetalo novos capítulos
protegido dum frio
num jardim interno
pequeno inverno, sorrio! descubro
uma linha nova
na palma da minha mão
uma linha que deságua, breve
como a mão que lenta escreve
num mar de compreensão
pequeno inverno, aquiesço! colorindo
no cinza descabido
um novo dia azul ...
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Uma dor
eu
queria as palavras grandes
para
poder falar das crianças de haifa
da
síria
beirute
ruanda
poder falar, meu deus
daquilo
que jamais saberei
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Poeminho
tudo que tenho aqui
é meu silêncio
entre ( )
ou mais sutil, nas ...
há um outro, , aqui
e aqui _ ainda
às vezes, te olho
e :)
feito prelúdio de um :*
sei lá, era isso
nada mais
:3
domingo, 22 de setembro de 2013
A mulher que ri
saco nas costas
de lixo - a mulher sorria
um sorriso
que ninguém entendeu; nem eu
um sorriso que não era loucura
nem alegria
era apenas sorrir-se
por falta de saída
um sorriso opaco
que nada dizia
simplesmente catava o lixo
e sorrindo
se ia.
sábado, 21 de setembro de 2013
Sobre a Avenida
_ em frente à livraria
no caminhar dos desconhecidos
o dia bafeja o perfume doce
comprado em liquidação
ali em frente à livraria, o tempo virou,
e sobre a avenida
o dia bafeja esse perfume alheio
(como pôde imitar com perfeição
adivinhar o verso livre
e me entregar travesso? tarde clara
um perfume do qual nunca esqueço
guardado em alto relevo
nos mármores meandros de mim).
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Versos prum dia nublado
sabe dia de garoa?
sabe dia assim, à toa?
sabe dia sem beleza?
sabe dia de incerteza?
sabe reza sem fervor?
vaso sem flor?
gelatina sem sabor?
viagem por obrigação,
espera por condução,
beijo sem amor,
chá quente no calor,
passeio sem vontade,
retribuir por piedade,
gentileza por consideração
sem um pingo de verdade
eis aí, um dia nublado:
à prostração dedicado.
sabe dia assim, à toa?
sabe dia sem beleza?
sabe dia de incerteza?
sabe reza sem fervor?
vaso sem flor?
gelatina sem sabor?
viagem por obrigação,
espera por condução,
beijo sem amor,
chá quente no calor,
passeio sem vontade,
retribuir por piedade,
gentileza por consideração
sem um pingo de verdade
eis aí, um dia nublado:
à prostração dedicado.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Redondilha
que perdi pelo caminho?
foi a luz, ou a coragem?
longo e negro manto trazem
quaisquer sonhos não vividos
estava o tempo florido?
ou de escuridão tomado?
doce ardor no colo trago
deste sonho interrompido...
Utopia
em suas mãos era como se carregasse um pássaro;
qualquer pressão seria mortal.
seu chão era como feito de nuvens;
pesar significava cair.
dentro de si era como carregar o amanhecer;
nenhum amanhecer é igual a outro.
amanhecer jamais repete.
em sua mente, era como se trouxesse o mais belo e fugidio pensamento;
qualquer movimento faria esquecê-lo.
de tudo talvez o amor residia era no olhar
seu olhar cantava antiga
uma cantiga de rodar ...
Relatando a manhã
abro os olhos
diante da paisagem, noturno
fico por lá
escorrendo uma hora completa.
meus olhos ficarão
mesmo depois da memória
- onde nenhuma frase completa meus discursos.
descobri que não há nada
nesse meu colo sem batismo
nada além de outra vida
uma vida qualquer
outra vida qualquer
mas tão bonita ...
nesse meu colo sem batismo
nada além de outra vida
uma vida qualquer
outra vida qualquer
mas tão bonita ...
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Fênix
das cinzas que virava
com pressa renascia.
era fênix verdadeira,
ou mera utopia?
o poeta bem queria
ser a fênix primeira
(... mas poeta que era
em cinza permanecia)
domingo, 15 de setembro de 2013
(...)
percorre
senta-se na sala sem pedir licença
revoa
no peito. nos olhos. entre escarpas
senta-se na mesa feito familiar
atenta
tenho os sonos todos tranquilo
e os acorda. a alma feito criança
de colo. perturba-a. revoa-a.
sabe
meus olhos são profundos como
a profundidade dos campos. vê
limpos como os desertos. repisa
pegadas de mentira. amedronta
se soube-se a rota das nuvens
mas só conhece os meios dos homens!
acredita-se matéria
mas é só um campo de girassóis
inocentes
engana-se
os dias nublados são dias de Sol disfarçados!
sábado, 14 de setembro de 2013
Monólogo (trecho II)
[joana] : te aceitarei como outro
não menos nua. não menos clara.
mas como eu, uma vez criança, aceitei a lua
que me impedia o sono.
e, como o fiz, te deitarei na minha cama
cobrirei com minhas mãos teu olhos
você estará nublado, eu solta, volto
te guiarei cego pelas vias do meu coração
quando você chegar no remanso, âncora
faz aquele som doce dum prazer terreno
e, como antes, te deitarei sobre meu peito
você, que é ponto de passagem, brota
nos vincos estéreis meus. amei primeiro
tua tristeza infinita. você amou meus versos
ao contrário do mundo, nosso amor é rio
correndo profundo, largo. voltarei, eu o sei
e como sempre, levarei apenas a roupa do corpo
pobre, mal possuo.
sim, o fiz - antes e sempre.
(...)
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Durma bem, amor
você diz: gosto dos seus poemas
neles
eu compreendo melhor
o que você sente
pois pense
que nem sempre há sentimentos
para poemas
mas isso não faz mal: um poema
pode ser feito de fingimentos
sentimentos de papel machê
e garrafas pet
agora, meu amor
nem sempre há poemas
para o sentimento
então, aqui estou eu,
nem sei contar o que sinto
nem sei sentir o que sei
nenhum poema hoje vai contar o quanto de coisas
eu queria contar. desisto:
hoje vou mandar só um beijo de boa noite
durma bem.
Curta
_ tó, mãe
_ o que é isso, meu filho?
_ é tempo mãe, você falô que tava sem
mãe e filho se encaram. o filho estende o pote cheio de cascas de caramujos de jardim, as mãos sujas. sobra um silêncio, passa um minuto
_ pega mãe, que o tempo tá passando
_ tá filho ... pera ... mamãe tá meio ocupada, deixa no balcão que eu já pego
_ mãe, o tempo já venceu, ó, cabou
_ ...
_ agora só tem caramujinho. deixa. eu pego mais depois, que agora eu tô sem tempo, vou falar com a Nina.
_ ...
_ tchau mãe.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Monólogo (trecho)
[ele] : joana, sei
que voltas
me ronda uma certeza
rara
sei que te preparas
joana, sei
que voltas
não o desejei - estava
resignado
joana, sei que acreditas
é como a providência divina
dissertando sobre ventos
no coração dum ateu.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Nota sobre escrever
procuro-me, não darão recompensas: seja feliz por completar alguém dividido ao meio.
um menino fez as palavras do barro. Deus não saberia as palavras. Deus não existe por não possuir poesia. só é divino o que compreende a poesia e Deus seria sólido, grave, e repleto de anjos e obras. Deus seria sem perdão mesmo perdoando, indelicado mesmo na ternura, rude ainda que dulcíssimo.
existe divindade na ordenação das frases. oração, assim chamam, coisa que pede, clama, abençoa.
escrever é um ofício horrível, horror, terror. quando vem a barca do medo e me estende uma mão: vem navegar entre palavras. não as quero mais. quero apenas voar no céu, percorrer o lugar comum de viver e morrer muito calmamente como um ser homem deseja desde que nasce.
porém me foi proibido recusar o convite desse barqueiro - vem, ele diz - e eu vou. se eu não escrever, definho. apenas escrevendo me percebo, de outra forma minha outra margem me fita distante e sinaliza, esboça uma explicação que mal vejo, ouço... é escrevendo que registro essa conexão, neste barco trafego trazendo mensagens de cá e lá, entre eu aqui e eu na margem outra.
ninguém me conhece por que não sei me fazer como sou.
vivo tudo isso que escrevo, tudo quanto mais difícil.
se eu pudesse, não escreveria jamais. quero ser rebatizado sob o nome de guillaume, nascido sob um signo prático: capricórnio. nasceria em qualquer lugar, onde ninguém escreveria em papel, sim em areia, para que pela manhã o mar ou o vento tivessem apagado tudo. brincaria de inventar paisagens. doeria apenas não ter conhecido quem eu tanto amo, mas há dores que nunca se apagam, por mais fortes que sejam o mar ou o vento.
morreria analfabeto.
morreria analfabeto.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Tentativa de contar uma história
vamos contar agora uma história simples, sem palavras gordinhas ou destiladas: era uma vez... ou não era uma? eram duas? eu não sei ou não me lembro bem...
"o vento estava recheado de palavras". que lugar comum, falar do vento... só eu sei o que quero dizer com isso - no entanto, houve um vento essa tarde, cheio de garoa e recheado de poemas não-escritos, eu soprava pra calçada procurando o fio da meada e só encontrava ladrilhos. não me preocupei por que eu também não precisava me explicar, apenas seguir.
olha: minha história assim se complicando... quero atingir a simplicidade para poder me entender. vamos dizer então que era assim: não tinha mais vez, eram dois e um só (queria pular no céu). mas como pular no céu se estamos caminhando na superfície do mundo? você se lembra: o céu também está no reflexo dos olhos, e eu posso pular neles, mergulhar como mergulho na água fria do atlântico sul, meu querido e amado atlântico sul.
talvez eu mal saiba contar histórias. às vezes eu admiro os ladrilhos da calçada e penso no atlântico sul e nos seus olhos. e nada disso faz mais sentido quanto minha cabeça pretende querer inventar, e estou me contentando em não fazer sentido nunca... talvez por que isso há de me fazer contente de fato.
era pra contar uma história? lá vai - era uma vez alguém (não eu) caminhando por aí ao lado de alguém (não você). pelas calçadas por aí, esse alguém ficou olhando os ladrilhos do chão pensando em mares do sul, o único que de fato conhecia. assim como o mar, ladrilhos tem um brilho aquoso, aquele dos olhos... dá uma desejo de mergulhar lá dentro (dos seus olhos). talvez lá, uma ilha ? e quando você olhar o céu, mergulhar no céu. pode ser que esse alguém nunca chegue de tanto olhar pras calçadas por aí, pensando em mares do sul... não faz mal nunca chegar. não importa. importa é caminhar, é seguir em frente, é ficar assim, mergulhar no silêncio e beber dele.
***
caminhando por aí talvez eu encontre comigo bebendo uma cerveja e falando de intermitências... com o olhar vago de alguém que entende estrelas e mares. por enquanto, no entanto, estarei aqui, escrevendo as pistas que deixo para o futuro me decifrar.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Poema do Desejo
desejo
sentir carmim
um meio-termo
o que prevejo
realizar
- com as mãos velejo
um novo mar
desejo
tocar o que há demais de mim
em você
mergulhar por fim
ao que há demais
de você
em mim
.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Por quê você não pode concordar com a homossexualidade
Eu não concordo com a homossexualidade. Aliás, ninguém deveria.
***
Sempre que acabo de ler um artigo, leio os comentários abaixo caso existam. À parte da batalha cega de opiniões, alguns chamam a atenção pela sinceridade natural. Reproduzo um, lido logo abaixo de um artigo sobre machismo: " ... E se ela (uma pessoa) procura, todos os dias, fazer bem a todos e se preocupar com o próximo, porém SEM DISCRIMINAR, não concorda com o (sic) homossexualismo?"
Oras, mas não é mesmo possível concordar com a homossexualidade, minha cara - assim como é impossível também discordar. Como alguém poderia concordar ou não com uma condição inerente à uma pessoa? Fico imaginando se a mocinha tal do comentário debaterá consigo mesma se ela concorda ou discorda da raça negra ou das pessoas com deficiências (sem discriminar, logicamente).
Aliás: tratar condições inerentes à uma pessoa como escolha pessoal já é, em grande parte, discriminação. É permitir que se possa "discordar" - convertendo preconceito em uma pretensa opinião, fundamentada em religião, moralismo ou pura e simples ignorância. Parece então mais fácil pintar de opinião a intolerância à reciclar velhos pensamentos; dói mudar, né?
Também incomoda um pouquinho ver aqueles que, ao contrário da mocinha do comentário, "concordam" com a homossexualidade: sentem-se orgulhosos por terem amigos homossexuais no círculo social, exaltam a liberdade de escolha da sexualidade, se alegram com o aparente exotismo do mundo gay, dos chavões, estereótipos, et cetera. É bom que haja um apoio à aceitação e à tolerância: mas jamais a criação de uma aura de diferença entre homos e héteros. Em comparação, a homossexualidade pode ser aparentemente menos comum - porém é condição sexual de mesmo valor, não sendo nada bom colocá-la num lugar diferente, como uma alternativa à condição sexual "normal", que seria a hétero.
Mas vem lá mocinha e, hipoteticamente, diz: bom, digamos que você esteja certo. Mas eu posso não aceitar a homossexualidade, e aí?
Você pode não aceitar a existência da segunda feira, do seu time adversário, da cor azul e do refrigerante que você não gosta. Sendo essas coisas obviamente tão diferentes da homossexualidade, tem com ela uma coisa em comum com milhares de outras: existem simplesmente, aceite você ou não. Alguns usam, alguns não usam, uns querem outros não. A cara mocinha do comentário não precisa dar um lindo beijo em outra mocinha (entre outras coisas); pode viver tranquilamente com sua sexualidade natural, que, ao que se mostra, é a heterossexualidade. O que é inútil é, de fato, acreditar que se pode aceitar uma coisa que existe naturalmente, como se alguém pudesse não aceitar o evento de um raio: não faz sentido. Menos sentido faria então aceitar o mesmo raio. Ele existe, é natural.
Fica aí, meu sincero desejo de que a mocinha se dê conta da bobagem que disse. E que ninguém mais, num futuro próximo, concorde ou discorde de uma condição natural, mas apenas viva a sua própria e respeite a do outro - um mundo onde conceitos arcaicos de sexualidade, finalmente, desapareçam.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Para dar à alguém de quem se gosta
acorde num domingo,
(sem cumulus)
estratos espalhados
claras em neve
reses de nuvens
penas douradas
em vincos espessos
(estratos sobrados
da chuva que passou...)
mas,
olhe o céu,
aves marítimas ...
um balão,
uma trilha de fumaça,
um reflexo,
que o mar propaga
no para-sempre
(observe o céu
no reflexo do meu olhar
observando o infinito
teu)
Um poema perplexo
um trovão ressoa
dentro
mas não é fome
é algo com(o) um nome
que evito dizer.
(da arte de se enganar
e mal perceber)
um trovão ressoa
dentro
mas não só em mim
(bate um medo de repente
assim, de tarde, do nunca mais
e bem maior,
do para sempre...)
sábado, 24 de agosto de 2013
Conselhos
meu cão que teve mais a me dizer
não diz - pois não fala
logo não fique aí parado
me olhando com distâncias
diga todas as flores que vivem
entre jardineiras e venezianas
agarre-se a mim como um passeio de balão
se agarra ao céu
***
"escave a si
procure seu oriente
lá talvez você encontre
um eu diferente, ao revés
de ponta cabeça
antípoda de você.
ele falará um língua
tão de repente
e te ensinará pólvoras
alfabetos, álgebras
embarcações e gentes
vá buscar o novo continente
no outro lado do mar
do teu corpo
do seu próprio eu, será outro."
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
00h00
um sono me abraça
onde me abarco de cinzas
pálidas do jade vivo
dos teus olhos
furta-cor do pensamento
fruta-pão na paisagem !
um sono requento
pra se ouvir ao relento
da saudade.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
-
então logo eu
refém de mim
precisei decidir ou desistir:
atirar ou reviver.
decido resistir,
viver de me atirar
logo eu: refém da precisão
revivo a imensidão
liberto-me de mim.
domingo, 18 de agosto de 2013
Mariposa Pega Ônibus
a mariposa entrou pela janela
eu ia para a voluntários
o ônibus ia para santana
a mariposa
ia morrer.
desceu num ponto,
ou caiu no chão - não sei.
(desci antes)
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
- -
eu tenho saudade daquela menina meio feia meio boba sentada na escada
ela queria tanto amar
haviam bilhetinhos e livros - muitos livros
pois os livros eram as naus do seu degredo
e o coração disparava a cada segredo
mesmo que fosse o segredo só para si
eu tenho saudade dela
das coisas tolas que passaram, pois eram tolas
e mais nada.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Costumo amanhecer
nuvens cobrem ideias claras
- mas é pra manhã ser mais fresca.
nos teus olhos em poças frias
costumo amanhecer.
desprevejo esquecer
um guarda chuva na neblina.
passarinho matinal
mergulho na poça fria
dos olhos de um bem-querer.
Quintal mundano II
a nevoa será sempre a nevoa
das águas que serão sempre outras
neste quintal mundano
eu nunca saberei se é ela que me cobre
ou eu que a penetro.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Imagine só
publicado primeiramente na engenhoca
temos falado demais
é preciso agora, meu amor
o silêncio.
os planetas alinhados
alinhavarão
teu medo.
temos falado demais
é preciso esquecer, meu amor
teu estado físico.
os planetas nunca
pensarão
sobre isso.
imagine só,
nós
corpos celestes
em
plena
colisão.
temos falado demais
é preciso agora, meu amor
o silêncio.
os planetas alinhados
alinhavarão
teu medo.
temos falado demais
é preciso esquecer, meu amor
teu estado físico.
os planetas nunca
pensarão
sobre isso.
imagine só,
nós
corpos celestes
em
plena
colisão.
domingo, 11 de agosto de 2013
A vida está um perigo
a vida está um perigo:
compramos margarina com sal
passamos de 80
numa rua residencial
pra trocar o blockbuster por um drama alemão
aos domingos, estará abolido o macarrão.
trocamos as violetas
por rosas encarnadas
e vasos de vidro
por copos de cristal
entre palavras violentas
brotarão sonhos de sal
desarrumamos livros estáticos
em estantes dentro de nós:
pois é, irmão
a vida está um perigo...
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Um poema impreciso
hoje, nessa tarde meio madura,
nasce um poema impreciso
de cores e formas
em bocas vazias
é errado, pois cresce no medo
e não rima
com fome e com medo - pra onde irá meu poema?
parido assim pequeno
de dentro de mim.
***
mas que poema é esse, afinal
- será feito de que palavras?
quantos quilômetros
percorrem sua métrica?
ele não diz nada
ou grita? esganado grito
que poema é esse
aflito?
***
eis o poema
poesia de peito rasgado
jorrando abstrata
uma ira quieta
um leão de circo assustado
confundido com fera
poesia de amor incerto
varando quintais outros
que não os dos cegos
era tanta luz à meia tarde
vazando na noite pela porta aberta...
***
ps.: (poesia cansada de velha
recém-nascida
resistir à vida
era tanto sonho à meia noite
vazando na mente
pela boca aberta na tua boca aberta...)
domingo, 4 de agosto de 2013
Rendez-vous
que lindo isso
da gente nem se ver e sorrir
da gente pisar em falso e sorrir
da gente virar do avesso e sorrir
da história nos fazer sorrir
da gente ser a gente
d'eu te saber errado
dum domingo fazer sol e eu tão estático
ter a mente fora de mim
aí.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Poema de dizer tchau
olho de canto: ninguém
pisa no pé da escada
outra vez; te beijo
e se alguém viesse?
ver o beijo
tanto melhor
e se viesse o bloco inteiro?
tanto pior
mas - e se a gente subisse no topo daquele prédio
e, lá, um outro beijo
trouxesse uma revoada
e toda a gente confundisse o que era você, eu, e passarinho
e nem a gente soubesse mais dizer
pairando no céu
acima do chão
(agora eu preciso ir)
terça-feira, 30 de julho de 2013
Versinhos dum Verão
pense só,
cadeiras dobráveis
sobradas
e a gente só,
vento na cara
debaixo das nossas bundas
um cão preguiça
e isso só
mais nada
pra querer
o mato canta
e a vida passa entre paralelepípedos
penteando
a existência.
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Meia-noite
paralelepípedos
mortos - ou apenas
adormecidos?
piso de leve para não acordá-los
frios de sereno
: se eu pudesse, morreria envolto em neblinas.
terça-feira, 23 de julho de 2013
Elegia 12h13 (e sobre a peça de ontem)
_ o que posso eu contra os sonhos?
pois os sonhos são a matéria das mãos dos homens,
e o que são as mulheres prateadas num palco? seios nus
são sonhos apenas. não sou nada mais que um sonho
um poeta que vira o rosto pra trás
e tira fotografias de quem pinta o futuro, gazes
tules e fundos falsos. um barco que no cênico mar
foge distante, acenando
correr para o camarim.
(escrito em 01/03/13)
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Sobre mim
hoje, por exemplo, perdi meu nome. se me chamassem por Deise eu responderia pois esse é o nome gravado nos vidros do trem; é apenas a ideia de alguém que quis sobrepujar a vida e, para isso, desistiu da alma; permanece gravado viajando na limitada rota infinita viagem. eu poderia amar sem pedir algo em troca como Deise, pois minha humanidade seria estática, ilusória - eu seria, tão maior, a ideia da realidade. alguém não me explicaria como condição ou estado; senão como efeito de ação (gravaram-me em vidro e era só).
perdi meu nome e vou, aos poucos, decantando as perguntas - já não me respondo por elas. alguém pode vir e tomar meu corpo pois ele é apenas impressão no correr do tempo - não é fato limitado entre adjetivações - é minha existência permeada de ignorâncias sobre nascer e morrer.
sábado, 13 de julho de 2013
Sobre ela
ela vai escavando aos poucos a nuvem sobre o seus pés até encontrar uma saída para o fundo do céu. uma saída para fora daquilo que compreende sua percepção de mim e do mundo. ninguém pode acalmar um corpo que está perdido entre cores quentes e divisas: aqui se está dentro e logo ali, abismo. ela se esconde de você por não saber estar certa ou morta - para essas dúvidas resta um choro vadio, aquele desespero de acordar e permanecer em movimento... eu a encaro, separado do corpo.
acalanto-a. sussurro-a. escrevo-a. ela se cobre de palavras irreais e volta assustada de ter se formado porém calma, mais calma. também espero notícias de uma alma liberta, me dê a mão e sublime aos poucos. entretanto ela vai acordar por você e, no corredor, comerá a escuridão com as mãos sujas de sonhos ruins. incerta, sempre incerta, canto baixinho e a banho em prosas, poemas a vestem. um dia passado na janela observando o mundo, quieta, ela pergunta certo momento para mim qual é meu nome: eu digo o teu. nos encaramos perplexos, impedidos de desadormecer.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Sobre os teus olhos
nos teus olhos
cores dormem
quais são?
vagarão sombras
gaiatos sem perdão?
nos teus olhos
descascam solidões
quais são?
recitam versos
ou para comer, silenciam?
onde teus sonhos se criam?
***
nos teus olhos
observo inquieto céu
contido em varais de infinitos
margeio a imensidão
destituído de palavras.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
(...)
não preciso do mar
nem o mar de mim
porém em qualquer tarde infinda dessas
seria bonito
beber da espuma salgada
e entre a relva dourada
brincar de esconder ...
é maior que eu,
maior como o mar é maior que minhas mãos.
domingo, 7 de julho de 2013
Das palavras humanas
o que era uma flor rubra, desencarnou
- despidos de sonhos, os sonhos são minhas mãos
elevadas no gesto mais espontâneo sobre as tuas
não direi nenhuma palavra humana
estou de pé, entre ondas
não direi nenhuma palavra humana
são todas incompreensíveis.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Um poema, apenas (Maria IV)
não importa, maria
de todo o jeito, amo-te
seja em outras línguas
descalça
novamente atrasada
por contar estrelas
te amo de toda forma:
pois não há a forma
nem eu as encontrei
de te gostar ou querer
maria,
outras haverão
de me querer mais
mas a graça,
é que te escolhi,
como esta chuva que, comprida
escolhe mansa onde vai cair ...
Relato
à deriva
destroços dum discurso
o acaso, doce, os ordena
andando no silêncio
de casa adormecida.
entre horas, sussurros.
terça-feira, 2 de julho de 2013
Se eu pudesse, queimaria tudo o que escrevo
(...) descontinuo essa frase maior e enterneço: na acolhida ela vai se romper em orações e preces cairão pelo chão como frutos. enquanto for preciso partir, as palavras também se romperão, sílabas dispersas de balbuciares... seria mais simples não discursar, mas o que eu digo não tem à quem; enquanto o receptor se confunde com as mobílias confesso quadros e criados-mudos.
agora também vão nascendo vírgulas e espaços pelos vasos do corpo-coração, nas paredes do quarto e na sombra daquele corpo invólucro. mas não é condenável, minha frase maior apenas se prolonga pelo humano e toca a irrealidade... o inventado, vivo, sufoca. num aquário violento, o peixe verbo se afoga, violetas nos vasos e no divã, corpo.
a irrealidade é tal: não há quadro nem divã nem corpo, o peixou estou e o aquário é a retina. violeta é a sombra noturna que apagou as formas do amanhecer e entregou o dia nublado. não fosse necessário discursar, porém destituir de signos o discurso, entregar apenas a matéria que nunca valeu de nada ainda que fosse tudo que houvesse. até hoje a irrealidade apenas me descobriu em lados não nascidos: natimortos: abortados.
de todas as formas, amo o infinito por não ser forma; dos sonos, os despertos por estarem em fuga; dos sons o silêncio, pela ausência; dos fantasmas os que vivem, pela incompletude. dos amores, nenhum: são engodos da gente pois há algo maior que eles. eu sinto silêncios ao invés - é tudo o que possuo, quando meu corpo em outro se desfaz e desatam os nós da existência; um abandono de mim em mortes pequenas.
se eu pudesse, queimaria tudo o que escrevo.
Conto
" uma vez eu escrevi assim: me disse que viver de pleno o coração era natural - e eu, eu ali, não entendi nem me permiti entender, de tão grande que era o medo de aceitar a inundação e a tempestade - eu com medo da tempestade e a cidade flutuante em que vim morar. flutuo na minha calma tão triste e tão vazia que vou flutuando e aumentando em volume esse mar com lágrimas. e meu coração vai se deixando levar e vou flutuando com a calma e com a esperança de chegar em algum lugar, e não estou chegando - e é tão frágil que não pode suportar o lusco-fusco do jogo que é amar. não pedi para que fosse compreendido mas sim para que fosse aceito, então que me destruíssem e nos restos me encontrassem, refeito. mas esse não sou eu, esse é aquele que eu deveria ser-- eu queria poder me contar que eu estava inteiro naquele instante mas me cerca a duvida e me ronda e canta. talvez eu tenha sempre estado flutuando calmo e lívido, apenas por um dia estive fora de mim nu num sonho porém regressei ao final dum sono muito im-particular ... aqui estamos. calmos. flutuando.
agora entretanto essa tristeza espelhada duma água sépia em mares abstratos é tão singular - singela - desesperadora. antes eu era criança e brincava de viver na tristeza sonhadora, assim são os meninos sensíveis às palavras (?) mas agora ... um homem disforme apenas pode dizer o quê? a felicidade e a mágoa são escolhas como escolho onde ir almoçar. apenas não escolho aquilo que sinto (mas até essa verdade se diluiu ... ). posso escolher onde chegar flutuando e posso abraçar, braçadas, frutos - ou posso me perder no tempo e chorar, e as duas coisas são válidas e corretas e estupidas e erradas pois, depois de perder alguém, depois de perder a si, e depois de ver numa tarde o mar cair sobre o céu eu já não sei de coisas certas. essa história começou quando um menino solitário perdeu o medo de tocar a realidade próxima. e batizou a descoberta por: amor. "
***
a realidade próxima é uma distância. ilhas que assustadas fogem ao tocar dos barcos repletos de existência. vamos falar do menino; era um rio-vazante de atrito e detrito afeto, por que na água seu som se diluia ao invés de propagar e perder, tomava forma de corpo e som água; mal posso explicar onde perdi as palavras disso. pois eu amava esse menino sem o encontrar entre outras paragens de comoção pública - senão nelas. entretanto ele é todo uma represa insuportável de conceber a própria vida e de se perder.
ironicamente, este mesmo garoto amava qualquer tipo de pássaro desenhado em folhas infantis de desenhos, cadeiras de plástico, folhas secas, ele amava topo tipo de inexistência forjada sem compromisso d'alma. um dos seus pássaros era, entretanto, real, e daí eu preciso chorar goles de bebidas para não suprimir o texto, nem transbordar palavras de outros prantos. o pássaro-vivo.
***
o pássaro-vivo era uma lagoa de dessobriedade - porém alçava voos comoventes que tocavam pr'além do corpo, tocavam fundo nos olhos, tocavam os espantos inerentes à vida. e não sabia disso, talvez se soubesse por delicadeza teria se retirado de cena ou aos poucos se eliminado.
eu não quero lembrar de como, conforme seus corpos se tocavam, meu menino e o pássaro iam se contradizendo até a síntese de seu existir. como o pássaro fugia restituído e ele caía perdido de essência, até não sobrar mais nada e eu, com as armas que não me cabiam, atirar no pássaro que voava isento de inocências. ele se diluiu em terra, e eu o perdi para sempre. desde então: resto.
Prainha
praia seca
grãos palavras
capim corrente
livro desfeito
n'areia
o mar bate nas frase(s/e)ixos
crispa-se
rochas submersas: substantivos subjetivos
praia seca
livro desfeito
em areias.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Diálogo com a vazão
_ retido em colunas
ou leitos do rio
perfuro meu peito
por furos, saltos
vasos de avenca
crescendo
_ retenho no peito
saltos perfuros
refugos do rio
correndo nos vasos
o deitar lívido
nascendo
: me mova do silêncio para aquele corpo
Abril, intempérie
pausas criam
asas
fragmentos de palavras
vigiando silêncios
é inútil o esforço
em construir o discurso
de mudar o curso
dizer belezas - leva ao nada sonho estrela rio nuvem
afinal duas árvores próximas em silêncio mal se percebem
barcos que num porto qualquer se ignoram
e uma praia, que, sem notícias, some nas marés
_ abril é a intempérie que nos rouba de nós
frio seco do qual não se pode regressar.
(abril 2013)
domingo, 30 de junho de 2013
Bailinho
num local indizível onde despertam ervas mudas
irrompem siroccos
atravessados dos meus olhos soprados nos teus
já em outros cantos, chovem clareões em sombras
holofotes vivos, astros e outros contos
enclausuradas de ideias. grávidos de viver.
cada palavra ornada é uma festa de incertezas.
Diálogo com a sonolência
_ interdito dormir
dito o ermo
em ter dor
de entender
este sono é indormável.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Acusação da chuva
"não sou água nem nuvem, sou evento - rito de passagem
nasço e morro entre um outro e vento - rota de viagem
apenas venho e envolvo paisagem
vai felipe aprender a ser menos,
a ser rito e meio
a não ser água nem nuvem
só alento"
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Dois quadros desconexos à primeira vista
tudo fantasiado de saudade inerte
contos acabados em florada
das ervas daninhas...
perdi a mão na poesia
de propósito
rebelião de verbos
motim substantivo
terça-feira, 25 de junho de 2013
Flor-do-brejo
é não saber onde piso e de separar cada palavra e saber que elas são especiais assim, cada qual em seu lugar. eu lembro de saber que ainda não era tarde - quando é cedo ou a gente faz ou a gente não se dá conta (pra se arrepender depois).
sabe, não ligo muito ou não ligo toda a hora, nem atendo sempre. não ouço o chamado e o barulho: tanto faz, vou me perdendo de pouco em pouco. perco o fio da meada e perco o pano: no fim não é nada demais; só uma luzinha dum vaga-lume que alumiou aquele instante - capas velhas revistas e encaras, diferentes ... os sorrisos amarelam estáticos, as formas permanecem idênticas - what will you look like when you're old? what will I do if I don't know you? - não guardo retratos, rasgo bilhetes, queimo ingressos e amparo no meio de frases, consolos.
outro dia, na esquina suja de mato lá perto de casa; o cheiro da flor-do-brejo antimatéria se conteve - é tão enjoativo que me cristalizou por completo. nas outras formas de viver, amar nunca se acaba; silencia.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
(...)
com horror percebo saber possuir
qualquer susto e um punhado de memórias
ou anos
cada ato é percorrido
relances,
de escada
cada dia
vivido
versejo bobagens sob mantos
minto amores e velejo
tenho medo de amanhecer demais
ao invés da madrugada
(eis o segredo que eu desejava te contar
às vezes penso - só eu sei dessa noite
onde sou velho e vivo ao revés
rindo do amor - do tempo - de partir e chorar...
um rio de você)
quarta-feira, 12 de junho de 2013
É isso (mais nada)
queria eu tomar esta tua chuva
pra mim. roubá-la. comê-la.
construir nos diques do espaço
um vazio cometa
cavar nos aterros claros
desconexos poemas
fixar minha sombra no ar
saltando em seguida - sutilezas
roer o osso do mundo
e encontrar aqueles segundos
onde eu roía carne:
você, calado de espanto
depois de um dia assim, violenta neblina
garoas correias
esbarrar com o destino
destro
é isso,
(mais nada)
terça-feira, 11 de junho de 2013
Viagem
meu estado de cansaço se descreve apenas como superlativo ou totalmente físico. o cansaço. o tempo varia margeando e eu o sigo - quando chego na rua bresser estou pingando algo cinza cor-olhar. meu pensamento como barco num novo mar ou uma terra sem lei parece até que eu perdi de vista aquilo que eu tentava precisar os contornos _ há rostos e costas, escarpas e morros que eu sempre me esqueço, e ficam confusos se perdem no dia seguinte. quero pensar mas desisto. e o gesto que me move para alcançar se perde. aonde estava o turbilhão que eu amava querer entender? já não sei.
venho embora e tomo o metrô.
tenho a certeza de não me possuir ou compreender e acho então ousado querer entender o outro, o passo seguinte, o limiar das pontas dos dedos _ mas explique-me, há tanta gente no metrô, como não posso ou não seria necessário ... são rostos e rostos dos quais eu me lembro, um velho com cara de índio americano, uma mulher cega que me estuda e perscruta ... descambo num vazio e acabo sem querer querendo encontrar um rosto que esqueci na ânsia de tentar assim poder rever a mim, como num espelho; espelho opaco e frio que eu toco com minhas mãos quentes. caminhos enveredam por certezas novas que eu vou colhendo _ adotar um gato _ e viajar _ e ter filhos _ encontrar alguém _ um passeio no parque _ e elas vão se assemelhando a uma vida que não possuo nem é minha. e eu nem desejo nada disso. aquele dia chegando em ribeirão, eu desejei amar qualquer coisa, preciso amar qualquer coisa, preciso olhar o mar e amá-lo preciso ter nas mãos um instante e amá-lo ... hoje de manhã escrevendo este texto, eu desejo
me partir
***
***
o processo descontínuo de viver é um cansaço infértil em mim hoje e desde que precisei fazer brotar uma hera nos meandros do peito. então, imperplexo ainda, entendo que preciso começar a narrar uma história mas não sei ainda bem ao certo qual delas poderia discursar no meu lugar. de qualquer forma: será preciso a tentativa e o erro, e se me perder o sono ou a conta posso ter certeza que _
era uma vez, fora de qualquer corpo, aquela ideia insincera de viver ao menos no máximo ou ainda: era uma vez o teu corpo - ou a ideia do teu corpo aos meus olhos, vítreos. se ele pulsava era desnecessário dizer, considerar aquelas juntas como algo próprio de um ser sempre foi muito além de qualquer verdade. simplificando: você é/está. eles são num ser somente. eu sou em ti. você é em lugar algum, porém em qualquer hora do passado, foste. é isto que eu devo narrar. a imprecisão de ser estar enquanto vida pois enquanto homem os adjetivos se desdobram; se confundem onde viver é uma plenitude disfarçada de sombra e você não sabe errar e acertar simplesmente. o momento início é: o corpo, mulher cega e o desejo de amar qualquer coisa em instantes homeopáticos.
o corpo:
(...) meu estado de cansaço é superlativo, entre parênteses apertados tristes e cheios de subjetividades ... eu preferia apenas consentir em nascer e morrer. brotar e murchar. haveriam outras opções além das que, em colisão eminente, meu corpo procurou o teu e encontrou passados?
o metrô passa e atravessa o cenário triste da cidade que me abriga entre tempestades, onde você me espera para não ser mais só - e, eu, só mais um ou outro dia. transito entre instantes pois o tempo se curvou ao meu prazer e agora estamos dançando uma valsa em dois... de repente meu lado se preenche de ar ou ausência, variando entre esperas e um barco que sem sonhar se continha no meu calar. de surgir em surgir eu preferi evaporar - espere
era só uma viagem de metrô como qualquer outra, meu corpo perfilando-se ampliando nas curvas. quero contar e preciso contar como me expando em sentir amar por aquilo que se esconde na sua cavidade ocular; onde eu não chego; também não chegam minhas delicadezas. quantas são as partículas que, sem se olharem, se margeiam e formam cada delicada curva no seu corpo tão fora de mim? quando meus dedos alcançaram os vales mais indigestos não havia nada: apenas terra desolada e silêncios. eu chovi inúmeras vezes e não ouvi respostas do tempo.
por tempos: amo-te. mato-te. teimo-me; desconfiando ao mesmo tempo das palavras. no vagão onde ainda resto ouço falar em amar e matar, teimosias humanas, palavras tão compridas e exatas. mas por "amo-te" me limito a significar: versos que saem pela minha boca e mãos e eu não compreendo. por "mato-te" significo: sombreio e me escondo na multidão, simulando sua ausência agora sempre. investigando assim as palavras elas perderam todo formato sagrado inicial e, por isso, ouso escrever.
mulher cega:
(...) ela veio de algum lugar muito à leste da cidade, e ali no vagão ela me encarou com os olhos que não possuía. você me enxergava de pé porém: jamais viu.
desejo:
(...) o desejo queima lento, é tão forte incenso ... senti o cheiro queimar longo, madeira, mas eu sentia medo também, e pudor. vi o incenso se desfazer como cinza e a previsão do futuro era essa: parece o inevitável buraco fundo - eu estava caindo e paro caindo e paro até que eu digo - não quero sentir nada disso, quero ser paz profunda que cai lenta até atingir o breu num baque - eu já não cheguei no tédio? não, eu cheguei na primeira barreira até lá e foi insuportável sentir o calor que emanava. quero o sangue mas não posso suportar; quero a paz e não posso suportar tão menos. não suporto oestes e lestes: meu cansaço é bidirecional.
por tempos: amo-te. mato-te. teimo-me; desconfiando ao mesmo tempo das palavras. no vagão onde ainda resto ouço falar em amar e matar, teimosias humanas, palavras tão compridas e exatas. mas por "amo-te" me limito a significar: versos que saem pela minha boca e mãos e eu não compreendo. por "mato-te" significo: sombreio e me escondo na multidão, simulando sua ausência agora sempre. investigando assim as palavras elas perderam todo formato sagrado inicial e, por isso, ouso escrever.
mulher cega:
(...) ela veio de algum lugar muito à leste da cidade, e ali no vagão ela me encarou com os olhos que não possuía. você me enxergava de pé porém: jamais viu.
desejo:
(...) o desejo queima lento, é tão forte incenso ... senti o cheiro queimar longo, madeira, mas eu sentia medo também, e pudor. vi o incenso se desfazer como cinza e a previsão do futuro era essa: parece o inevitável buraco fundo - eu estava caindo e paro caindo e paro até que eu digo - não quero sentir nada disso, quero ser paz profunda que cai lenta até atingir o breu num baque - eu já não cheguei no tédio? não, eu cheguei na primeira barreira até lá e foi insuportável sentir o calor que emanava. quero o sangue mas não posso suportar; quero a paz e não posso suportar tão menos. não suporto oestes e lestes: meu cansaço é bidirecional.
Entre grãos de areia
essa correnteza, bem sabe
frágil incerta
recriará no espaço do antes
o "desse depois" (enquanto havia)
essa correnteza, tão inútil
(tecido do espaço tempo)
nos move, encontros e opostos
nas contrárias vírgulas.
vivemos imperceptíveis
espaços mínimos
invisíveis
sem tempo
entre os grãos de areia.
***
depois, passamos.
hoje, estou eu.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Animal noturno
marcou pegadas
em mim: trilha
sorrindo, a abrir caminho
ignoro os ruidos
mas sinto o erro
como se, animal
noturno
rompesse madrugando
o formato das coisas.
Poema Tecelão
fazia anos
todos os dias
tecia o tempo
e cosia
na grande fiadeira
na grande fiadeira
de cerzir
lãs atemporais
infindas.
lãs atemporais
infindas.
fazia anos
todos os dias
e outros serviços.
domingo, 9 de junho de 2013
Para que as palavras sejam abrigo
eu queria aquelas flores menores
brancas vermelhas
aquelas
que crescem na inconsciência
todas
que ornavam os atos
mortas
aos pés dos santos
desejava-as como peças
suas pétalas
seus passos
ombros. silenciosos ermos
de vida. isolados.
eu querias as flores menores
detalhes brancos vermelhos
mas era desejar o etéreo
e, de ato em ato, parti-me
de cena em cena, para não mais.
sábado, 8 de junho de 2013
Poema meio bonito (Maria III)
maria,
gosto do teu jeito manso
das saias amassadas
dos teus erros francos
e passos errados (guardei todos)
gosto da sombra fina
que teu corpo faz
contra o Sol
do teu cheiro doce
e olhares fáceis (guardei todos)
maria,
gosto da tua tristeza
tanto quando da alegria
e das pausas. todas.
gosto de como você preenche meu olhar despretensa,
gosto de sentir sua falta aos pouquinhos
(só não gosto de te lembrar
que preciso te esquecer).
Poema meio sentimental (Maria II)
se você estivesse aqui,
maria
diante dessa aurora,
rajando o céu
seu coração ... face
ganharia um par de asas,
eternas
sua sombra seria minha
todas as outras seriam
versos ...
maria, esta aurora é da cor,
das poesias que fazem o meu coração ...
quinta-feira, 6 de junho de 2013
(o meio de um conto sem começo nem fim)
acordar é estar orvalhado, ser acordado é lembrar de cicatrizes, orvalhar é estar fora de si _ sereno.
andei ficando bravo. é pra ficar bravo? não sei, conta pra mim? tenho ficado bravíssimo como os aplausos duma peça de um ato. meus gestos crescem pra além de mim e me transpassam, horrorizados de serem meus: ele num crime tirou meus olhos da paisagem mas não tirou a paisagem dos meus olhos - o que serão as nuvens que estacionam na íris-esquerda, distantes e róseo-purpuras? são sonhos por viver ou só depois de esquinas sujas e corpos corpos usados? você: um corpo. mas, e eu? que sou eu? essa pergunta universal move meu gesto gigante me varando o ser, sem-blanche (apenas noir), preocupadíssimo. é com pudor que recordo do único momento em que nosso olhar se cruzava sem medos, animais. sinto um arrepio de nojo e uma tristeza corrente pela inocência onde me afogo e embebedo - entretanto agora ela está morta, cega. acabou. fiquei com a paisagem apenas, um objetivo ou um assunto, mas a inocência: essa despertou. o que é um menino sem inocência senão uma sentença de morte que não se cumpre?
parece que, sem querer, amanheceu.
andei ficando bravo. é pra ficar bravo? não sei, conta pra mim? tenho ficado bravíssimo como os aplausos duma peça de um ato. meus gestos crescem pra além de mim e me transpassam, horrorizados de serem meus: ele num crime tirou meus olhos da paisagem mas não tirou a paisagem dos meus olhos - o que serão as nuvens que estacionam na íris-esquerda, distantes e róseo-purpuras? são sonhos por viver ou só depois de esquinas sujas e corpos corpos usados? você: um corpo. mas, e eu? que sou eu? essa pergunta universal move meu gesto gigante me varando o ser, sem-blanche (apenas noir), preocupadíssimo. é com pudor que recordo do único momento em que nosso olhar se cruzava sem medos, animais. sinto um arrepio de nojo e uma tristeza corrente pela inocência onde me afogo e embebedo - entretanto agora ela está morta, cega. acabou. fiquei com a paisagem apenas, um objetivo ou um assunto, mas a inocência: essa despertou. o que é um menino sem inocência senão uma sentença de morte que não se cumpre?
parece que, sem querer, amanheceu.
terça-feira, 4 de junho de 2013
Ex-cêntrico
foi engraçado
um dia - remetente
no outro - destinatário
quando dei por mim
a mensagem na garrafa
traguei
talvez fosse gole de ilusão
em inversos destilados
sei apenas que até hoje
vomito coisas jamais ditas.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Poema de alguém olhando as nuvens (ou Lembre-se de mim)
_ evito tropeçar
nos meus próprios sorrisos
um dia te esbarro
ilícito!
_ te peço um cigarro aceso
pra queimar
o momento
_ vou te atropelar no tempo
testar sua simplicidade
ver se moram ainda minhas
quaisquer coisas sem nome
no teu futuro coração.
_ quem sabe eu te encontro crescido?
mas ainda menino
quando a gente não lembre
de acordar...
sábado, 1 de junho de 2013
bolha nº 3 (translúcida)
bolha
translucida - nasce, secreta
sopro-a
quero-a tanto
que estoura!
multiplica-se
fraciona-se
parte-se em brilhos
turvas gotas
bolha translucida
transversal
à inversa lucidez
da luz.
bolha nº 2 (opaca)
... eu queria contar essa história pra alguém. essa história que nunca começa, pois precisa ser contada. como um bordado não existe sem que o tecido seja, primeiro, violado, e a linha o trespasse. não quero divagar. a história nunca começa, sopro as bolhas pra que sejam eternas - mas tornam-se eternos os sopros, morrem as bolhas. as bolhas são mais bonitas, porém. também são as crias que não vingam. e os sonhos que morrem, as falas interrompidas.
a certeza de que você vai morrer é uma lança que, me cortando, não dói. talvez porque você não signifique nada ainda, talvez amanhã. você é uma bolha que eu soprei - preciso encontrar o sopro. que permanece.
bolha nº 1
se alguém olhasse bem perto da bolha e visse um universo? nesse universo vivem seres que se perguntam coisas de luzes, de narizes rarefeitos, corpos limpos. a bolha dura um tempo de vento soprar além do muro da casa para rua (espanto e felicidade do gerador da bolha) - nesse tempo único nós deuses estivemos na presença dos seres rarefeitos de narizes, da bolha nascidos, que meio tempo entre a brisa e o estouro tiveram a ousadia de se perguntarem - quem somos eles?
***
antes de se esvair em sabão e gotas, no universo um poeta existia. tiveram a ousadia também de possuir poetas e escreviam coisas. nós deuses não pudemos (mas teríamos) classificado-as grama e filo e mentirosamente tal qual boi em pasto a palavra que emanou da bolha.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
Há qualquer coisa
há qualquer coisa em meu peito
qualquer coisa como um pássaro
que em tom menor cantasse aquela canção vadia
inexplicável melodia.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Ruídos nº 4
me cansaram os silêncios
das flores
das mesas postas
_ não falo, não penso
não rimo
me deixaram as brisas
os campos
as paroxítonas
_ não rio, não choro
estou ali, desestado
atado
zombam de mim os sonhos
os rios
e o mar
_ não! não quero barco -
quero a vaga sonolência
daquela manhã que perdi por engano
(um menino perdido que dormia sem fim)
eu quero aqueles silêncios
que se desdobravam em mim...
das flores
das mesas postas
_ não falo, não penso
não rimo
me deixaram as brisas
os campos
as paroxítonas
_ não rio, não choro
estou ali, desestado
atado
zombam de mim os sonhos
os rios
e o mar
_ não! não quero barco -
quero a vaga sonolência
daquela manhã que perdi por engano
(um menino perdido que dormia sem fim)
eu quero aqueles silêncios
que se desdobravam em mim...
Pobres considerações
entre folhas secas no quarto de alguém que viveu
"
_ um gesto que, por maior que eu, me transpassava e me obstruía - fiquei impossível - não segui dormindo. despertei no meio duma gota fria de suor, que me envolveu nos segundos antes desse gesto tão grande onde eu toco seu rosto; ele me traz sua presença apagada ... ainda fito o momento que passava por mim, agora dissipado. cheira.
preciso de um corpo que contenha, que defina. preciso me conter como um corpo d'água e estou assustadíssimo de despertar. não entendo. vou sentar à beira da cama e seu rosto ainda é táctil, vivo. eu havia me esquecido de detalhes, mas esse gesto me trouxe os vincos ao redor dos olhos dele feito caminhos na terra. há tanta coisa para lembrar, entre dias e dias e de repente, ele. um corpo morto por silêncios. palpito. trêmulo.
ontem eu, transcendendo, entendi.
entendi a vida e como um corpo fora de si permanece outro. precisei chorar mas não pensei nele, pensei naqueles que amo e amei, enquanto em êxtase dentro de mim dentro de um palco ou uma luz ... entendi amor e fui amor. ali começou meu gesto, que era menor e carregava minhas mãos em levezas, minha boca em diálogos, meus olhos em lágrimas. cheguei em casa com outros corpos no lugar do meu e apenas deitei. entendido da vida com um erro que eu não sabia ou quis. mas esse gesto veio comigo e me traiu fazendo compreender um homem dado morto, calado, desfragmentando meu corpo em poemas.
eu, sublimando em versos.
como cheguei aqui não sei. creio que foram anos ou meses que me distanciam dele e do seu corpo tão esguio como linhas que, por acaso, se encontraram. além disso, não há o que contar: ele escrevia poemas - dizer basta para estancar tragédias e possibilidades daquele menino todo homem. levava roupas simples. tinha o quarto simples e as palavras no entanto ... desdobravam-se em barquinhos que eu deixava a corrente do pensamento levar silenciosos sem ressoar metálicos na minha mente. eu evitava pensar; ele excedia o pensamento e transbordava nos olhos.
era, sobretudo, inocente nos modos. eu carregava malícias que ele não podia saber. na confusão da torrente de ideias e da inocência nasciam tolices, palavras erradas, problemas inventados, toda irrealidade táctil de uma mente que se sobrepunha à si própria em meio ao amor. depois, compreendi - não como hoje compreendi poesia, porém - e sorria ao lembrar do vacilo dum corpo. ri. ele perpetrava pequenos atos violentos. jogava entre afeições palavrinhas maldosas. até que por não-sei-o-quês ele sumiu. e eu fingi esbravejar mas aceitei o ódio como se aceita uma palavra dura duma criança.
então fui despido daquele pequeno passado - seguindo, amando, doando-me de corpo ao que apareceu.
me subiu sob o corpo um verso: quem são os anjos? serão essas sombras que te escapam do sono? e fiquei acordado aqui tentando voltar ao que fui até ontem, destranscendido puro e simples, esquivo de sonhos ...
não sei escrever. essas palavras me vieram nascendo por outras mãos, pelo gesto de sobre-mim. suspeito saber onde andam os olhos sujos dele, sujos sempre de melancolias tão vivas, animaizinhos que se debatiam, debates, abates. estão os olhos perdidos em lembranças. hoje invento uma explicação para essa dor que me entorpeceu através dos espelhos - nunca fui assim, des-amado. surgindo dum egoísmo ao qual conheço quero não-entender os porquês dele. e estavam enterradas todas essas sombras de ideia, como hoje numa noite pretensamente clara ele se assombra sobre mim? o que me desespera é que não são acusações (antes fossem) mas são apenas tristezas que se prolongam para fora das raízes dos verbos. não me era permitido compreendê-lo e agora numa torrente de saber não só compreendo mas recebo. quero fazer perguntas descabidas para as quais não existem orações e te bater com punhos abertos ... mas, meu deus, ele ofereceria a outra face e aí nasce meu desespero incontido. ele sorriria feliz.
a noite me delata. os objetos caseiros se esbarram. uma vez de pé, me deito. deitado, levanto. escorro pelas paredes sem me espalhar pelo chão - em crayon, esboço um verso e um retrato na parede da sala de estar sem cortinas, entre penumbras dos postes lá fora. agora me veio que ele deve ter achado quase bárbaro a sala descortinada quando aqui dormiu. mas, de fato, ele dormiria em qualquer lugar, ele apenas buscava um corpo como um barco ao qual se agarrar. ali, era eu e estava presente solidificado. ele dormiria em qualquer lugar pois ele não estava de corpo presente como eu. onde mora sua essência? preciso questionar suas horas pois agora que você me veio não te conheço ou sinto. passei, rompi, evadi-me. eu era tão feliz.
agora, parece que consumi a vida.
ontem sobre mim havia uma luz púrpura - fui jasão mas chorei como uma medeia rasgada. me despi de mim. saí daquilo que me foi dado em batismo e caí no outro lado, era ali a vida pura correndo, tudo compreendi e me era dado ... depois houve festa, barulho, suor ... comemoramos como loucos ... mas acho que o gesto que crescia em mim já era um incômodo quando senti aquela necessidade de voltar e voltei ainda etéreo mas consciente. eu nem lembrei seu nome. como é teu corpo sob a luz?
porque nasceste da minha escuridão?
por favor, se subtraia de mim.
antes que amanheça, preciso ver se o céu não se desdobrou em dois. sua presença não está na casa senão em mim e no céu. corre a rua um frio que conserva qualquer brilho, preciso contar isso à alguém mas me parece impossível ser compreendido de tanta compreensão. entretanto ele saberia o que dizer entre pausas que não se despedaçavam ... mas não posso ligar ou gritar ou quem sabe esperar um encontro inesperado numa estação qualquer, isso seria ceder e preciso entender quem fui não mais quem sou ou entendo. já não me conheço de qualquer forma. meu corpo numa pele em artifícios, minha carne ... que sangue é esse que eu não sorvo ou conheço? quem me deu meus olhos? eu - envelhecerei e ele não saberá meu rosto. eu preciso lhe contar como abro minha carne à sangue frio sobre um palco de fumaças ... você precisa saber homem, mas já está tarde. estou semeado da sua recordação repentina como se num instante fosse descoberto que era possível te amar como a mim mesmo.
como fosse preciso enfim te reconhecer e me desfazer em verdades - era reparar um erro ou estancar uma flor vítrea. você é tão digno de amor _ meu deus. meu corpo se torna amor, amor em outros nomes como campos ou ígneas rochas. o gesto está totalmente trespassado de mim e eu dele, e, agora enfim, te tomo entre braços impossíveis e sussurrarei: entre marés, me perdoará por aquiescer e sorrir. não dormirei por cinco noites. batizarei outros corpos do teu ... além disso, não há nada que eu possa fazer - deite-se comigo e, por favor, me faça dormir.
"
era, sobretudo, inocente nos modos. eu carregava malícias que ele não podia saber. na confusão da torrente de ideias e da inocência nasciam tolices, palavras erradas, problemas inventados, toda irrealidade táctil de uma mente que se sobrepunha à si própria em meio ao amor. depois, compreendi - não como hoje compreendi poesia, porém - e sorria ao lembrar do vacilo dum corpo. ri. ele perpetrava pequenos atos violentos. jogava entre afeições palavrinhas maldosas. até que por não-sei-o-quês ele sumiu. e eu fingi esbravejar mas aceitei o ódio como se aceita uma palavra dura duma criança.
então fui despido daquele pequeno passado - seguindo, amando, doando-me de corpo ao que apareceu.
me subiu sob o corpo um verso: quem são os anjos? serão essas sombras que te escapam do sono? e fiquei acordado aqui tentando voltar ao que fui até ontem, destranscendido puro e simples, esquivo de sonhos ...
não sei escrever. essas palavras me vieram nascendo por outras mãos, pelo gesto de sobre-mim. suspeito saber onde andam os olhos sujos dele, sujos sempre de melancolias tão vivas, animaizinhos que se debatiam, debates, abates. estão os olhos perdidos em lembranças. hoje invento uma explicação para essa dor que me entorpeceu através dos espelhos - nunca fui assim, des-amado. surgindo dum egoísmo ao qual conheço quero não-entender os porquês dele. e estavam enterradas todas essas sombras de ideia, como hoje numa noite pretensamente clara ele se assombra sobre mim? o que me desespera é que não são acusações (antes fossem) mas são apenas tristezas que se prolongam para fora das raízes dos verbos. não me era permitido compreendê-lo e agora numa torrente de saber não só compreendo mas recebo. quero fazer perguntas descabidas para as quais não existem orações e te bater com punhos abertos ... mas, meu deus, ele ofereceria a outra face e aí nasce meu desespero incontido. ele sorriria feliz.
a noite me delata. os objetos caseiros se esbarram. uma vez de pé, me deito. deitado, levanto. escorro pelas paredes sem me espalhar pelo chão - em crayon, esboço um verso e um retrato na parede da sala de estar sem cortinas, entre penumbras dos postes lá fora. agora me veio que ele deve ter achado quase bárbaro a sala descortinada quando aqui dormiu. mas, de fato, ele dormiria em qualquer lugar, ele apenas buscava um corpo como um barco ao qual se agarrar. ali, era eu e estava presente solidificado. ele dormiria em qualquer lugar pois ele não estava de corpo presente como eu. onde mora sua essência? preciso questionar suas horas pois agora que você me veio não te conheço ou sinto. passei, rompi, evadi-me. eu era tão feliz.
agora, parece que consumi a vida.
ontem sobre mim havia uma luz púrpura - fui jasão mas chorei como uma medeia rasgada. me despi de mim. saí daquilo que me foi dado em batismo e caí no outro lado, era ali a vida pura correndo, tudo compreendi e me era dado ... depois houve festa, barulho, suor ... comemoramos como loucos ... mas acho que o gesto que crescia em mim já era um incômodo quando senti aquela necessidade de voltar e voltei ainda etéreo mas consciente. eu nem lembrei seu nome. como é teu corpo sob a luz?
porque nasceste da minha escuridão?
por favor, se subtraia de mim.
antes que amanheça, preciso ver se o céu não se desdobrou em dois. sua presença não está na casa senão em mim e no céu. corre a rua um frio que conserva qualquer brilho, preciso contar isso à alguém mas me parece impossível ser compreendido de tanta compreensão. entretanto ele saberia o que dizer entre pausas que não se despedaçavam ... mas não posso ligar ou gritar ou quem sabe esperar um encontro inesperado numa estação qualquer, isso seria ceder e preciso entender quem fui não mais quem sou ou entendo. já não me conheço de qualquer forma. meu corpo numa pele em artifícios, minha carne ... que sangue é esse que eu não sorvo ou conheço? quem me deu meus olhos? eu - envelhecerei e ele não saberá meu rosto. eu preciso lhe contar como abro minha carne à sangue frio sobre um palco de fumaças ... você precisa saber homem, mas já está tarde. estou semeado da sua recordação repentina como se num instante fosse descoberto que era possível te amar como a mim mesmo.
como fosse preciso enfim te reconhecer e me desfazer em verdades - era reparar um erro ou estancar uma flor vítrea. você é tão digno de amor _ meu deus. meu corpo se torna amor, amor em outros nomes como campos ou ígneas rochas. o gesto está totalmente trespassado de mim e eu dele, e, agora enfim, te tomo entre braços impossíveis e sussurrarei: entre marés, me perdoará por aquiescer e sorrir. não dormirei por cinco noites. batizarei outros corpos do teu ... além disso, não há nada que eu possa fazer - deite-se comigo e, por favor, me faça dormir.
"
terça-feira, 28 de maio de 2013
Reembolso
veio o correio
me dar de volta
minhas sombras
reembolso postal
em mala direta
sem remetente, cartão
ou coisa alguma
apenas as sombras
e este dia de sol
queimando viva
a pulsação das pedras ...
sento-me na escada do quintal
o correio parte
acaricio minhas sombras
usadas, alimento-as
com um sorriso
_ uma delas está partida ao meio.
uma delas está roubada
uma delas tem tua cor, empalidecida
uma delas, no entanto, procurava apenas compreender
as coisas à luz do dia...
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Segunda-feira
recite meu nome
como se eu não escrevesse
não gostasse de Pessoa
ouvisse rádio
ou dissesse coisas conexas
como se meu corpo fosse mistério
e não lesse sonetos
navegasse silêncios
em diminutas imensidões
lembre-se de mim
como se eu não fosse um acidente
e permanecesse calado
nunca jamais te fitando
te fitando com olhos mognos
procurando estrelas em reflexo do céu.
domingo, 26 de maio de 2013
Pra gostar de alguém - In Memoriam
espere atingir o ponto
da maré atingir os olhos
em barcos de preces roucas
ecos de passos
...
espere a vazante
nos sonos cansados
regatos parados
barquinhos-machê
...
ao sentir um cheiro triste num cômodo qualquer
desperte. me roube um poema. me dispa de mim.
sonoro _ crivo _ alastro. percorro e permaneço
fujo de compreensões sobre seu corpo-mastro
eu, leme.
Pra gostar de alguém V
guarde com laço e fita
cada memória amarela
(permita que esqueça)
separe
a metade mais bela
- da outra, nada pude fazer.
dessalgue a alma
amoleça as carnes
destempere crenças
(e não se esqueça)
cada gesto sela
um tesouro aberto.
cada esquina escreverá canções em falso.
Pra gostar de alguém IV
ouça bem o vazio
nos discursos do vento
não se esconda: permita-se chover
não negue carinho à nenhum cão
e ao fechar os olhos
lembre-se de alguém
alguém em silêncio que te ofereceu, inocentemente, o coração.
Para gostar de alguém III
deixe decantar a chuva
ao céu
direcione uma câmera escura
reserve um domingo
revele os negativos
(no fundo da chuva decantada
há uma canção
em relevo retrato:
um olhar
pra ser amado).
Pra gostar de alguém II
numa foto qualquer
troque olhares
com um desconhecido
que faleceu
preto e branco.
acene
reserve quando a-parecer saudades
(e, ao som do cool jazz, você chorar).
Pra gostar de alguém
plante uma flor
regue-a
olhe-a crescer como se observa a lua crescer
assustada correr um céu
longo, profundo, maior do que ela jamais será.
não é estar pronto
(nunca se está pronto).
Tu, pronome
manchas na velha toalha boletins de ocorrência
tragédias domésticas
pausas nas conversas lembranças repentinas
bau de melancolias
poeira na estante preguiça de sonhos
fantasia incolor
olhares vagos palavras em fôrma
que já não cabem (em)
poemas xaropes disfarçados
morfina
tu
pronome (eu)
só
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Notas
"what will you look like when you're old?
what will I do if I don't know you?
I guess that I decided not to ask the day I took the road."
pensei tão gravemente na sua pele se curvando sobre si, e nos cabelos finos caindo caindo caindo caindo caindo ... sons graves ... sei entretanto que você morre antes desse fim. compreendi tua natureza. você é como uma peça maior que o som de tão bela e triste, apesar da alegria aparente. eu, me afogando numa agonia muda, só tive a opção covarde/corajosa: partir no primeiro ato.
***
***
se você amar, simplesmente, no violento ato eterno de encarar sua própria face no espelho - ou, com os pés, esmagar uma flor. esse amor nascido de violência, surpreso - e se você amar? partir para fora de si e se abandonar - todos os caprichos, todo o eu, todo esmero - sujar-se como nunca antes - num passado, o antepassado divertindo-se quebrando pescoços de galinhas e vendo jorrar sangue. se você amar assim outro homem? sem a condição. as condições. afundar no sujo da incondicionalidade e rasgar prantos. se jogar no absurdo do ser/estar e viver, empapuçar-se de fluido úmido e do antes de você (matéria negra) ... se você amar? será perigoso? vamos, aos poucos, inundar seus olhos turvos, rapaz. e, da sua fantasia de menino, fazer longas tiras loiras ...
***
... e sermos jovens e percebermos - e nos apressarmos - e nos contermos - e termos medo - e não irmos pra praia numa quarta-feira - e só irmos dançar inofensivamente - bebermos sem perigo - voltarmos pra casa - e nunca partir - e sermos jovens velhos até morrer ...
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